Segundo a mais recente investigação do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (Labpats), que estuda a saúde e o bem-estar dos profissionais e das organizações, mais de metade (55%) dos trabalhadores é incapaz de controlar as coisas que são importantes na sua vida e 81,5% tem falta de confiança na sua capacidade para lidar com os problemas.
A investigação, que envolveu 3.822 profissionais de várias gerações que trabalham em organizações nacionais e multinacionais de áreas como a educação, saúde e gestão, concluiu que mais de metade (51%) sentiu que as coisas não estavam a decorrer como queria e 76% que as dificuldades se acumulavam ao ponto de não ser capaz de as ultrapassar.
Comparando com a investigação anterior (esta é já a terceira), em 2024 “mais profissionais referem que se sentem incapazes de controlar as coisas importantes da sua vida, que as dificuldades de acumulam e não conseguem ultrapassar”.
“São duas faces da mesma moeda. Além de ter os stresses, tenho a perceção de que não estou a conseguir mesmo gerir e que as coisas estão a sair do meu controle. As coisas são cada vez mais difíceis, eu sinto que não tenho competências para gerir, não tenho uma perceção otimista de que isto vai melhorar e isso faz com que as pessoas fiquem mais exasperadas e tenham comportamentos mais desadequados”, explicou a coordenadora do estudo e fundadora do LABPATS, a psicóloga Tânia Gaspar.
A investigadora mostrou-se igualmente preocupada com outro dos dados apurados neste estudo: o agravamento do consumo de substâncias estimulantes, medicamentos psicotrópicos, tabaco, álcool e maior dependência dos ecrãs.
“Já contactei com o ICAD [Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências], e eles também tiveram essa evolução (…). Está tudo relacionado, porque as pessoas, de alguma maneira, tentam encontrar escapes. As mulheres, tomam mais psicotrópicos, os homens bebem”, disse Tânia Gaspar.
Outro dos dados apurados neste estudo foi o aumento do absentismo e do presentismo, a situação em que o trabalhador está fisicamente na empresa, mas a sua produtividade e desempenho são reduzidos.
Os dados indicam que 10,1% dos profissionais apresenta um elevado nível de absentismo e 20,9% revela níveis elevados de presentismo.
A investigadora recorda que o presentismo tem igualmente muito que ver com a desadequação dos horários de trabalho ao ritmo biológico dos trabalhadores: uns trabalham melhor de manhã, outros de tarde.
“Tenho um doente que diz que não consegue trabalhar de manhã e que produz imenso ao fim do dia. É daqueles tecnológicos, um super génio, um miúdo brilhante, que resolve todos os problemas da empresa e que diz que se vai despedir porque não aguenta”, explicou a especialista, questionando: “Como é que aquela empresa vai perder um homem daqueles?”
Defende que as empresas têm de “estar mais atentas à capacidade de individualização” e tentar adaptar melhor os horários dos trabalhadores, à sua capacidade, ritmo biológico e às suas tarefas.
“No fundo, o que é que a empresa quer? É que as pessoas façam. E as pessoas também querem fazer, mas se calhar não naqueles moldes”, referiu.
O estudo conclui que os profissionais em teletrabalho ou em formato híbrido “são os que revelam um ambiente de trabalho mais saudável”.
Comparando com os resultados de anos anteriores, este estudo do Labpats, que vai ser apresentado em Lisboa no dia 14, revelou uma “ligeira melhoria ao nível da ética e valores, compromisso da liderança e ambiente psicossocial e condições de teletrabalho” e um “ligeiro agravamento” ao nível do envolvimento da comunidade (responsabilidade social) e da falta de recursos para a saúde. Os riscos relacionados com a saúde mental mantiveram-se.
lusa/HN
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