Financiamento e crenças são alguns desafios da investigação em psicadélicos

12 de Maio 2025

O investigador Albino Oliveira Maia considera que o financiamento, a menor robustez de alguma ciência e as crenças são os principais desafios de quem investiga na área das substâncias psicadélicas.

“A medicina e a ciência psicadélica têm ciência a menos e, na minha opinião, ativismo a mais”, afirma o especialista, que faz parte do grupo de trabalho que hoje apresenta em Lisboa um conjunto de recomendações sobre o uso clínico de psicadélicos.

Questionado sobre os desafios que a investigação nesta área enfrenta, diz que muitas vezes as pessoas têm “crenças muito profundamente estabelecidas” e correm o risco de não serem inteiramente neutras quando iniciam o processo de investigação.

“Têm já uma ideia e têm uma ideia muito forte sobre a pergunta”, explica.

Outro dos desafios que aponta é a dificuldade de financiamento na área da saúde mental, em particular na investigação que envolve psicoterapia.

“Há um enorme desafio em conseguir financiar a investigação de qualidade e há depois um enorme desafio em conseguir financiar as intervenções que implicam em psicoterapia, se e quando elas estão disponíveis”, afirmou.

Portanto – disse – o desafio é “a dois níveis”: “na produção de conhecimento e na aplicação de conhecimento”.

Outro dos desafios que aponta é o facto de por vezes, como é dificil financiar investigação com maior nível de qualidade, “faz-se uma investigação um bocadinho mais simples (…) tentando obter evidência que pode não ser a melhor, mas é mais ou menos”.

“É também um risco importante, porque o que isto cria é evidência, mas evidência de menor qualidade, que depois é autorizada para tomar decisões, mas que nunca é suficiente para poder tomar as decisões necessárias do ponto de vista regulamentar”, considera.

O investigador, diretor da Unidade de Neuropsiquiatria da Champalimaud, integra o grupo de trabalho que elaborou as recomendações sobre o uso clínico de psicadélicos que serão hoje apresentadas em Lisboa.

O grupo contou ainda com as contribuições das ordens dos médicos, farmacêuticos e psicólogos, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Questionado pela Lusa, destacou a importância da divulgação pública destas recomendações, cujo objetivo é que os agentes de tomada de decisão “tenham presente a existência do consenso entre os profissionais”.

Disse ainda que a intenção é publicar estas recomendações, numa versão traduzida, em revistas internacionais com revisão científica, de acesso aberto, e que o documento que vai ser hoje apresentado será enviado “aos decisores centrais nesta área”, ou seja, o Infarmed, o Governo, a Direção-Geral da Saúde, a Comissão Nacional de Saúde Mental e às autoridades de supervisão profissional”.

lusa/HN

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