Nas primeiras seis semanas de desconfinamento morreram em Portugal 11.124 pessoas, mais 807 do que os 10.31 óbitos que seriam de esperar nesse período, tendo em conta a mortalidade dos últimos 6 anos. A ENSP explica que “é possível que este aumento de mortalidade esteja associado a casos de doença crónica grave cuja investigação e tratamento possam ter sido adiados devido à pandemia de Covid-19, porque os doentes evitaram procurar os serviços, ou porque as listas de espera adiaram os diagnósticos e tratamentos para além do prazo em que poderiam ter sido efectivos”.
Durante esse mês e meio, observaram-se 474 mortes (4%) associadas à Covid-19 e 10 650 (96%) por outras causas naturais. Se não tivesse havido as mortes por Covid-19, teria havido registo de 333 (3%) óbitos acima do que seria de esperar, com base na média dos últimos seis anos. “Gostaríamos de saber mais sobre as causas desses óbitos, mas os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde não permitem fazer análises por grupos diagnósticos mais detalhados”, afirma a ENSP.
A instituição acrescenta que “a hipótese de que um grande número destes óbitos possa ter sido causado pela Covid-19, mas não terem sido classificados como tal, é pouco provável. Em Portugal, e durante este período, vigorou uma política de testagem muito ampla, incluindo testes a pessoas que morreram em casa e a aceitação de um diagnóstico clínico de Covid-19 relativamente abrangente, mesmo sem confirmação laboratorial”.
A hipótese de que este aumento de mortalidade possa estar associado a casos de doença aguda grave que não procuraram os serviços de saúde atempadamente ou que não foram adequadamente atendidos pelos mesmos é uma possibilidade que a ENSP descarta, já que na altura “os serviços de urgência, incluindo as unidades de cuidados intensivos, estavam bem abaixo do nível de saturação e já se verificavam alguns sinais de retoma da atividade assistencial (consultas, exames, cirurgias, etc..)”.
É neste sentido que o aumento de “mortes colaterais” durante o desconfinamento da pandemia pode estar associado “a casos de doença crónica grave cujo diagnóstico e tratamento possam ter sido adiados devido ao combate da Covid-19, porque os doentes evitaram procurar os serviços, ou porque as listas de espera adiaram os diagnósticos e tratamentos para além do prazo em que poderiam ter sido efectivos”.
A análise ajustou-se com base no modelo ARIMA entre 1 de janeiro de 2015 e 31 de maio de 2020, com o objetivo de estimar as mortes esperadas para o período de mortalidade da Covid-19, se não houvesse pandemia. Os especialistas compararam a mortalidade observada e a esperada.
PR/HN/ Vaishaly Camões
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