Brasil quer reforçar as relações económicas com Portugal

28 de Junho 2020

O embaixador brasileiro em Lisboa diz que o Brasil quer reaproximar-se politicamente e reforçar as relações económicas com Portugal, país que pode ser a "base de entrada da produção brasileira na Europa", passando por Sines.

“Só para se ter uma ideia, eu já tinha uma promessa de uma visita do vice-presidente da República a Portugal, tinha data para a visita do ministro das Relações Exteriores a Portugal e estávamos negociando com o governo português a realização da famosa cimeira [de chefes de Estado], que há alguns anos não realizamos entre o Brasil e Portugal, talvez no segundo semestre deste ano. Tudo isso entrou em banho-maria, tivemos de cancelar as visitas”, por causa da pandemia, afirmou, em entrevista à Lusa, Carlos Alberto Simas Magalhães, culpando a pandemia pela ausência de iniciativas visíveis.

Isto, na opinião do diplomata, é a demonstração da vontade do governo brasileiro, liderado por Jair Bolsonaro, de reforçar as relações políticas entre os dois países.

Nos últimos anos, assistiu-se a afastamentos conjunturais, que foram tema de conversa na receção que teve com o Presidente português, a quem garantiu o empenho de Brasília numa forte relação com Lisboa.

“Portugal e vários outros [países] continuam a ser prioritários para o Brasil. Mas nós temos de gerar números, realidades, coisas que sejam palpáveis no nosso relacionamento. É fácil falar da língua e da cultura. Mas essas vivem por si só”, defendeu o embaixador, apontando a necessidade de uma aposta na diplomacia económica, que irá permitir uma “base efetiva e mensurável do interesse recíproco”.

Para o diplomata, Portugal pode ser uma porta de entrada dos produtos brasileiros na Europa e essa é uma das prioridades do seu trabalho, que será retomado no segundo semestre, com a retoma económica.

A presença de Portugal na União Europeia “tem implicações no comércio, porque aí surgem muitas vezes dificuldades tarifárias e para tarifárias”, o que prejudica o fluxo de bens e o acesso ao mercado.

No entanto, para o diplomata, o que falta é “juntar as pessoas, um esforço maior junto aos setores privados estimulados pelos governos, em aspetos setoriais”.

E deu como exemplo o caso das frutas tropicais: “é algo em que haveria certamente mercado suficiente em Portugal para aumentar as nossas exportações”, já que “temos preço e qualidade para oferecer, que permitiria a muitos dos importadores portugueses redirecionar uma parte das suas compras, que hoje se dão no contexto da União Europeia”.

Mas para tal, “precisamos de trazer delegações, examinar, por exemplo, entrepostos alfandegários em Portugal para utilizar o país como a nossa base de entrada da produção brasileira no mercado europeu”, realçou.

Sines, apontou, “poderia ser um local interessante para explorar, onde há depósito alfandegário. E essa é uma das ideias que o Ministério dos Negócios Estrangeiros aqui está examinando”.

Para que haja um salto das relações económicas é necessário concluir o acordo alfandegário entre a Europa e o bloco sul-americano.

“Portugal, não sem razão, foi um dos grandes promotores deste acordo”, realçou, referindo que há vários estudos que demonstram que o país poderia beneficiar bastante do acordo, “aumentando e diversificando as suas exportações para o Brasil”.

Quanto ao investimento direto estrangeiro do Brasil em Portugal, considerou-o “muito significativo”, com cerca de 3.5 mil milhões realizados no território português no final de 2019 e com o interesse a manter-se.

O “Banco do Brasil vai mudar o seu escritório de Londres para Lisboa. Isso reflete, por um lado, não só a realidade deste país, porque o Banco do Brasil trabalha essencialmente com o investidor brasileiro, mas também é uma boa notícia do ponto de vista das relações entre os nossos dois países”.

Já sobre o investimento português no Brasil Carlos Simas Magalhães considerou que é sua obrigação “estimulá-lo” e recordou que “nas crises surgem algumas boas oportunidades. Concluindo: “Não vejo razão dramática para o capital português não se estabelecer no Brasil”.

Nomeado em dezembro, Carlos Simas Magalhães (70 anos) entrou para a carreira diplomática em 1975 e foi embaixador anteriormente em Marrocos, Paraguai e Polónia.

LUSA/HN

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