Universidade de Coimbra autorizada a distribuir isótopo essencial para diagnóstico do cancro

27 de Setembro 2021

Uma empresa da Universidade de Coimbra (UC) foi autorizada a distribuir o ‘GalliUC’, uma formulação de Gálio-68 produzido em aceleradores de partículas (ciclotrões) que vai revolucionar o uso deste isótopo para o diagnóstico do cancro, anunciou esta segunda-feira a academia.

Numa nota de imprensa, a UC explica que a autorização à ICNAS-Produção “foi concedida pelo Infarmed [Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde] e é a primeira na Europa para o Gálio-68 e a primeira a nível mundial para um processo deste tipo, tendo inclusive obrigado à elaboração de uma nova monografia da Farmacopeia Europeia especialmente dedicada à produção de Gálio-68 em ciclotrões”.

O ICNAS – Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde funciona no Polo das Ciências da Saúde da UC.

“O Gálio-68 é um isótopo utilizado em exames PET (Tomografia por Emissão de Positrões) para o diagnóstico oncológico, nomeadamente em tumores neuroendócrinos e no cancro da próstata”, esclarece a UC.

Até agora, segundo a universidade, “a única forma de obter este isótopo era através de equipamentos denominados geradores de gálio, dispositivos dispendiosos e com capacidade de produção bastante limitada”, pelo que “existe uma escassez deste produto a nível mundial e, por vezes, os doentes têm de esperar vários meses até conseguirem realizar os seus exames”.

Em Portugal, a ICNAS-Produção distribui, desde 2013, radiofármacos para PET preparados a partir de Gálio-68 produzido em geradores.

Recentemente, a UC desenvolveu um processo de produção de Gálio-68 baseado em ciclotrões, o que possibilita “aumentar até 10 vezes a capacidade diária de produção, permitindo, assim, suprir as necessidades dos hospitais em relação a este isótopo essencial”, refere o investigador e gerente da ICNAS-Produção, Antero Abrunhosa.

De acordo com Antero Abrunhosa, o conceito é “fortemente inovador, já que se propõe distribuir o isótopo, cabendo ao hospital cliente fazer a reconstituição do radiofármaco antes do exame”.

Além “de substituir os onerosos geradores, esta estratégia permite a flexibilidade de cada hospital ou clínica preparar o radiofármaco que mais lhe convém, de acordo com as suas necessidades clínicas em cada dia”, refere o investigador.

Este novo processo de produção de Gálio-68 foi patenteado pela Universidade de Coimbra e licenciado à multinacional belga IBA Radiopharma Solutions, líder europeu no fabrico de ciclotrões, que o vai comercializar em todo o mundo.

Segundo Antero Abrunhosa, “o retorno do licenciamento da patente (‘royalties’), bem como da distribuição dos isótopos e radiofármacos, é integralmente destinado a suportar as atividades de investigação desta área na UC”.

Na mesma nota, o reitor da academia de Coimbra, Amílcar Falcão, considera que autorização agora obtida é “mais um passo para a afirmação da dimensão internacional do trabalho que é desenvolvido pela UC na área das ciências nucleares aplicadas à saúde”.

LUSA/HN

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