As bolsas totalizam 310 mil euros (210 mil euros para seis projetos de investigação e 100 mil euros para sete projetos de intervenção comunitária) e são financiadas pela farmacêutica Gilead, que hoje anunciou em comunicado os vencedores da edição de 2021.
Criadas em 2013, as bolsas Gilead Génese apoiam projetos de investigação na área da saúde com aplicação clínica e projetos de participação cívica e cidadania que promovem a qualidade de vida e o diagnóstico de doenças.
José das Neves, investigador do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, coordena um dos projetos científicos distinguidos.
À Lusa, explicou que a sua equipa vai desenvolver um novo dispositivo intrauterino capaz de libertar em simultâneo dois medicamentos – uma hormona anticoncecional (levonorgestrel) no útero e um antirretroviral (dapivirina) na vagina – para evitar gravidezes não planeadas e a infeção com o vírus VIH/sida.
“Apesar de altamente eficazes enquanto contracetivos, os dispositivos intrauterinos de natureza hormonal disponíveis no mercado baseiam-se em tecnologias que apenas permitem a libertação de fármacos diretamente no útero. Em relação à infeção pelo VIH-1, sabe-se hoje que alguns fármacos antirretrovirais são eficazes na proteção das mulheres contra a transmissão sexual do vírus, mas apenas quando diretamente administrados na vagina”, assinalou.
O investigador realçou que “a libertação controlada da dapivirina na vagina baseia-se numa nova tecnologia avançada que envolve a utilização de pequeníssimos cristais (nanocristais) de fármaco”.
As funcionalidades do dispositivo, que se pretende seja de colocação única e de substituição anual, serão testadas em laboratório através de um dispositivo artificial que “permite simular os espaços uterino e vaginal”.
O projeto será desenvolvido em dois anos e, segundo José das Neves, “espera-se que os resultados obtidos sirvam de suporte para a realização dos primeiros ensaios clínicos”.
Na categoria de investigação foram também premiados trabalhos sobre a efetividade da vacinação contra a Covid-19 em doentes com cancro (Instituto Gulbenkian de Ciência) e sobre anticorpos recombinantes de elevada potência e neutralização para o tratamento e a prevenção da infeção com o coronavírus SARS-CoV-2 (Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa).
A lista de vencedores, nesta categoria, inclui ainda o estudo de uma vacina intranasal em murganhos para evitar a infeção das vias respiratórias e a transmissão do vírus da Covid-19 (Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra), um projeto para melhorar a produção de vacinas de ADN e ARN mensageiro para a Covid-19 (i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde) e um trabalho sobre o impacto do vírus da sida no intestino (Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes).
No domínio da intervenção comunitária, a Gilead vai financiar campos de férias para crianças e jovens infetados com o vírus da sida (associação Sol), ações de educação sexual para jovens (associação Bué Fixe) e um programa de marcha para idosos de Moscavide e Portela, no concelho de Loures (Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico de Lisboa).
Teresa Tomás, investigadora e professora da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico de Lisboa, disse à Lusa que o programa que coordena visa contribuir para “a melhoria da aptidão física e capacidade funcional” dos idosos que, após confinamento e afastamento social por causa da pandemia de Covid-19, “apresentem de facto limitações da sua capacidade funcional”.
“Consideramos que o ensino e a prática de uma atividade simples – marcha de forma diferente, com bastões, a chamada marcha nórdica – poderá ser um fator motivador que contribua para o aumento da atividade física como estilo de vida na população idosa”, sustentou.
Além da marcha, os idosos irão fazer exercícios para “potenciar a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação”, diminuindo o risco de quedas.
O projeto envolve na coordenação médicos, fisioterapeutas e uma nutricionista e os resultados serão avaliados ao fim de um ano.
A Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”, a Liga Portuguesa contra a Sida, a Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à Sida – SER+ e a Associação Positivo vão ser igualmente apoiadas pela Gilead, por projetos de rastreio, promoção de direitos e envelhecimento ativo.
LUSA/HN
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