“Grande parte dos problemas da urgência e da falta de recursos humanos tem sido mais aguda na região Sul e é generalizada a todos os hospitais”, disse à Lusa o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, depois de uma visita ao serviço de urgência geral do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra).
Este é o hospital com “maior afluxo de doentes à urgência” na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e, “como em muitos outros sítios”, os “médicos estão a trabalhar e dando o seu melhor”, numa altura de inverno, em que, por norma, aumenta a pressão sobre estes serviços, a que se junta a pandemia de covid-19, que criou “duplos circuitos de urgência no hospital”.
Os médicos “têm resolvido até agora os problemas da urgência, no entanto, isto tem sido feito à custa da produção normal dos serviços”, porque “quanto mais tempo estão na urgência menos resposta dão dentro dos serviços de internamento”, afirmou Alexandre Valentim Lourenço.
“Estamos a ver esses médicos muito preocupados porque o inverno vai começar agora e este hospital na altura do inverno está sempre muito mais prejudicado, muito mais assoberbado de trabalho do que os restantes”, acrescentou.
“Estamos neste momento com um número de acessos à urgência superior ao de 2019, antes de haver pandemia”, disse Alexandre Valentim Lourenço, que considerou esta situação “muito preocupante” porque, “pelos vistos, não houve capacidade de aprender algo com a pandemia, nomeadamente recorrendo aos serviços mais adequados” à resposta necessária a estas populações no inverno.
Para o responsável da Ordem dos Médicos, a situação é ainda preocupante por haver agora menos médicos do que em 2019 e por estarem “mais cansados”, após quase dois anos de pandemia.
“Este hospital serve concelhos que têm muitos utentes sem médico de família” que, “sem alternativa”, recorrem à urgência hospitalar, sendo “necessário reforçar os cuidados primários desta área”, afirmou, defendendo a criação de “melhores condições de atratividade” para os médicos se fixarem nesta região.
Alexandre Valentim Lourenço afirmou que, neste momento, “a pressão covid” nos hospitais é menor do que há um ano, dado o efeito da vacinação da população, que diminui a necessidade de internamento e tratamento hospitalar, mas realçou que continuam a existir dois circuitos separados, que mobilizam recursos humanos.
“Os doentes de cuidados intensivos neste hospital são poucos, são todos não vacinados, e continuamos a ter a unidade dedicada ao não covid perfeitamente cheia e por isso estes hospitais estão preocupados porque se tiverem um acréscimo ligeiro dos doentes covid tem uma dupla unidade e um duplo circuito que consome recursos humanos e essa é que é a nossa preocupação”, explicou.
Alexandre Valentim Lourenço disse que durante a visita de hoje, nas conversas com os médicos, “foi focado a necessidade de haver, em cada região metropolitana, se calhar, hospitais dedicados apenas à doença covid, como acontece nos outros países, fazendo com que estes hospitais mantenham os seus fluxos normais” para outras doenças.
LUSA/HN
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