Médicos de Saúde Pública lamentam que se continue a “correr atrás do prejuízo”

30 de Dezembro 2021

O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública defendeu na quarta-feira que deviam ter sido antecipados os reforços agora anunciados da Linha SNS24 e dos rastreadores, lamentando que se continue a “correr atrás do prejuízo”.

“A Linha SNS24 não tem a capacidade necessária, como se tem constatado nestes últimos dias, e naturalmente que aquilo que são os meios alocados para o rastreio dos contactos também não é suficiente para esta magnitude de casos”, disse à agência Lusa Ricardo Mexia, no dia em que Portugal voltou a registar um novo máximo de novas infeções desde o início da pandemia de Covid-19.

Para o médico de Saúde Pública, “ou há efetivamente uma alteração naquilo que é a abordagem do problema ou então tem que haver uma significativa mobilização de meios para fazer face a estas necessidades”.

“Eu não vejo nenhuma das duas coisas a acontecer e, portanto, é difícil perceber qual é a que é a estratégia”, lamentou.

Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) anunciaram ontem que a linha SNS24, que tem enfrentado dificuldades por causa do aumento da procura com a evolução da pandemia, terá mais cerca de 750 elementos até final da segunda semana de janeiro, o representará uma subida de cerca de 15% nos meios.

Por outro lado, a ministra da Saúde afirmou na terça-feira à Lusa que as administrações regionais de saúde estão no terreno a fazer uma “procura ativa de meios” para reforçar as equipas de saúde pública.

“O que neste momento acontece é que temos vários níveis de procura de prestadores de cuidados de saúde, na vacinação, nos hospitais, nas áreas dedicadas a doentes respiratórios, nos testes, na Linha Saúde 24, nos rastreios e, portanto, os profissionais de saúde não cresceram exponencialmente à medida que está a crescer exponencialmente a necessidade dos serviços que prestam”, lamentou Marta Temido.

Por isso, salientou, “não basta ter disponibilidade para contratar, é preciso também que essa disponibilidade se concretize em respostas efetivas e isso nem sempre é fácil”.

Para Ricardo Mexia, estas medidas deviam ter sido antecipadas porque já se sabia que os números de casos iam aumentar.

“Toda a gente identificou isso como uma necessidade, não percebo porque é que continuamos a correr atrás do prejuízo dois anos volvidos da pandemia”, afirmou, lembrando que a linha 24 já tinha colapsado no passado.

Lamentou ainda que não se tenha acautelado a resposta para responder à testagem em massa da população, que leva agora a que pessoas que testaram positivo não tenham onde ir fazer um teste PCR.

“A montante não têm resposta porque não atendem o telefone da linha SNS 24, não conseguem obter a prescrição para o teste e quando obtêm a prescrição para o teste depois não conseguem um laboratório para o fazer”, descreveu o epidemiologista.

No seu entender, “faz todo o sentido” que as pessoas que vão visitar um familiar ou ter uma reunião familiar com mais pessoas se testem, mas, afirmou, “se estamos a ocupar a nossa capacidade de testagem com essas pessoas, depois para aquelas que tem mesmo que ser testadas porque são sintomáticos a capacidade não chega”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Fundador da Joaquim Chaves Saúde morre aos 94 anos

O farmacêutico Joaquim Chaves, fundador da Joaquim Chaves Saúde, morreu hoje aos 94 anos, anunciou o grupo, afirmando que foi “referência incontornável na área da saúde” em Portugal.

Portugal registou 120 novos casos de VIH em 2023

Portugal registou 924 novos casos de infeção por VIH em 2023, mais 120 do que no ano anterior, com o diagnóstico a ocorrer maioritariamente em homens, indica o relatório “Infeção por VIH em Portugal 2024” divulgado hoje.

Sónia Dias: “Ciência da Implementação pode ser catalisador para adoção de políticas baseadas em evidências”

Numa entrevista exclusiva ao Healthnews, Sónia Dias, Diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA), destaca a criação do Knowledge Center em Ciência da Implementação e o lançamento da Rede Portuguesa de Ciência da Implementação como iniciativas estratégicas para “encontrar soluções concretas, promover as melhores práticas e capacitar profissionais e organizações para lidarem com os desafios complexos da saúde”

MAIS LIDAS

Share This