Estudo revela que confinamento aumentou consumo de substâncias para melhorar desempenho e imagem

12 de Janeiro 2022

Durante o primeiro confinamento provocado pela Covid-19, em 2020, o consumo de substâncias para melhorar o desempenho e a imagem pessoal aumentou em Portugal, revela um estudo que envolveu investigadores da Universidade do Porto (FMUP).

Em declarações à agência Lusa, a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS Irene Carvalho esclareceu hoje que a investigação visava avaliar o impacto das medidas restritivas impostas pela pandemia na autoimagem e prática de exercício físico excessivo, bem como no consumo de substâncias.

Entre as substâncias em avaliação destacam-se os “esteroides anabolizantes, estimulantes sexuais, hormonas de crescimento, vitaminas, suplementos, laxantes, chás, infusões, anfetaminas”.

O estudo internacional, publicado na revista científica Frontiers in Psychiatry e que envolveu investigadores da FMUP e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP), recolheu dados de participantes de sete países – Portugal, Reino Unido, Itália, Hungria, Espanha, Lituânia e Japão – através de questionários padronizados.

No total, participaram 3.161 pessoas, das quais 332 portuguesas e com uma média de idades que rondava os 35 anos.

O estudo mostrou que durante o primeiro confinamento provocado pela Covid-19 (abril e maio de 2020) os portugueses “foram os que mais iniciaram o consumo destas substâncias”.

“No estudo vê-se que Portugal tem uma taxa de 11,9% de pessoas que começaram a usar estas substâncias com o confinamento. Foi o país que mais começou a utilizar. O país mais próximo é Itália, com 8,6%, e depois a Lituânia, com 6,1%”, afirmou Irene Carvalho, acrescentando, contudo, que na Hungria não se verificou qualquer aumento deste tipo de produtos.

Segundo a investigadora, as substâncias mais utilizadas foram as vitaminas, proteínas, cafeína, chás e infusões, seguidas dos ácidos ómega.

“A questão é que são substâncias que, apesar de não causarem efeitos psicotrópicos, as pessoas têm dificuldade em deixar de as usar. Não tem tanto a ver com a substância e as suas propriedades, mas com a utilização que delas é feita, não por questões de saúde, mas por causa da aparência e desempenho”, referiu.

A investigadora salientou que o risco do consumo destas substâncias reside no propósito da sua utilização, especialmente na era da Internet, em que “estes produtos são vendidos como soluções mágicas e rápidas numa publicidade não só enganosa, mas agressiva”.

“Esta é que é a questão: as pessoas lançam-se nesta aventura com a melhor das intenções, sem supervisão médica e sem saber o que está a acontecer. Aqui reside o perigo e o problema”, observou.

O estudo detetou também “níveis consideráveis” de ansiedade relacionada com a aparência, nomeadamente, em Itália (18,1%), no Japão (16,9%) e em Portugal (16,7%).

“É necessário ter atenção às pessoas particularmente vulneráveis, por exemplo, com maior ansiedade relativamente à sua imagem que podem estar mais vulneráveis a este tipo de publicidade e de norma cultural do corpo perfeito”, acrescentou.

Os dados evidenciam ainda que a prática de exercício físico aumentou significativamente a probabilidade de as pessoas recorrem a estes produtos, com o Reino Unido e a Espanha a registarem o maior número de pessoas que praticavam exercício de forma excessiva ou problemática.

“Concluímos que as pessoas que mais praticam exercício físico também mais consomem estas substâncias para melhorar a imagem e o desempenho”, acrescentou a investigadora.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

SPAIC certifica unidades de asma grave em Portugal

A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) lançou o “Guia para a Certificação de Unidades de Asma Grave”, visando reconhecer oficialmente centros especializados na abordagem da asma grave. Em Portugal, 5% dos adultos com asma enfrentam esta condição debilitante.

O que a escola sabe, a saúde precisa de conhecer

Sérgio Bruno dos Santos Sousa
Mestre em Saúde Pública
Enfermeiro Especialista de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública na ULSM
Gestor Local do Programa de Saúde Escolar na ULSM
ORCID

Cristo Rei ilumina-se de azul no Dia Mundial da Doença de Parkinson

No próximo dia 11 de abril, o Cristo Rei será iluminado de azul em Almada como parte da iniciativa global Spark the Night, que visa aumentar a consciencialização sobre a Doença de Parkinson. Este movimento simboliza apoio aos milhões de pessoas afetadas pela condição neurodegenerativa.

Conferência Sustentabilidade em Saúde regressa ao CCB

No dia 1 de julho, entre as 09h00 e as 13h00, o Centro Cultural de Belém acolhe a 13ª Conferência Sustentabilidade em Saúde. Organizada pela AbbVie e o Expresso, o evento apresentará o Índice Saúde Sustentável e discutirá o impacto da inteligência artificial na saúde.

Update em Medicina 2025: Inscrições Encerram a 18 de Abril

As inscrições para o Update em Medicina 2025 terminam a 18 de abril. O evento decorre de 30 de abril a 2 de maio no Convento de São Francisco, em Coimbra, com um formato híbrido que combina sessões presenciais e online, abrangendo temas essenciais da prática clínica.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights