Comerciantes esperançosos com reposição de horários em Lisboa

27 de Agosto 2020

As escadas rolantes sobem e descem vazias como se estivessem a contar o tempo, mas no centro comercial Atrium Saldanha, em Lisboa, os lojistas têm esperança que o alargamento do horário de trabalho traga melhores dias em contexto pandémico.

Ainda com poucos clientes, é naquele espaço que os comerciantes se congratulam com a reposição do horário de funcionamento das lojas praticado antes da pandemia, podendo encerrar, agora, às 22:00.

Em declarações à agência Lusa, Mafalda Ramos, uma funcionária de uma sapataria, conta que a medida da Câmara Municipal de Lisboa é necessária, uma vez que o setor tem de “andar para a frente”.

“Nós estamos todos conscientes da pandemia que estamos a atravessar, temos as medidas de segurança necessárias para receber os clientes e concordo que tenha sido alargado o horário de funcionamento”, realça.

A voltar devagarinho à normalidade, a lojista reconhece que ainda há clientes que desconhecem os novos horários e lembra que o mês de agosto é mais parado, porque há muitas pessoas de férias.

Mais à frente, numa loja pertencente a uma multinacional espanhola de joalharia, encontra-se Rita Paredes que explica que, apesar de ainda não haver tantos clientes como dantes, notou “bastante diferença” com a reposição do horário.

“[…] Nós abrimos há pouco tempo até às 22:00, mas as pessoas têm aderido e têm vindo”, observou, adiantando que as pessoas “já não estavam habituadas” a ver um centro comercial aberto até mais tarde, deixando de vigorar a obrigatoriedade de abrir às 10:00 e encerrar às 20:00.

De acordo com a comerciante, a nova hora de funcionamento laboral “compensa”, porque os clientes têm comprado cada vez mais.

Entre algumas lojas de roupa, numa cafetaria, Ana de Jesus considera que não tem havido uma grande afluência do público, uma vez que vários serviços ainda não funcionam na sua totalidade.

“Nós achamos que o alargamento horário deveria ter sido, ou deveria ser, quando toda a gente retomasse a sua atividade, o que não está a acontecer. As pessoas dos escritórios não estão e esses são, principalmente, as pessoas que fazem movimentar o nosso negócio”, diz a funcionária de uma franquia de serviço de café e pastelaria.

Para a vendedora, as pessoas devem regressar ao local de trabalho, porque é com o regresso das outras atividades que os centros comerciais ganham movimento.

A três quilómetros do Atrium Saldanha está a Avenida da Igreja, em Alvalade, onde os comerciantes sentiram pouca diferença em relação à reposição do horário.

Várias pessoas caminham nos passeios de cima para baixo, mas não entram nas lojas.

“Antes da pandemia, havia mais movimento. Havia mais movimento de vendas como mais movimento nas lojas. Hoje em dia, a maioria das pessoas que entra tem mais o objetivo de ir comprar, não há aquela pessoa que está de passagem a espreitar”, diz Pedro Fonte, dono de uma sapataria.

Apontando a algum receio das pessoas, o comerciante conta que o alargamento do horário laboral “não faz diferença nenhuma”, porque sempre encerrou antes das 20:00.

Também para Alcídio Gomes, responsável por uma loja de vinhos, não há mudanças.

“No meu caso não faz diferença, porque já era o horário que eu tinha, até às oito da noite. Portanto, não me veio afetar praticamente nada”, afirma, acrescentando que tem verificado “um aumento de vendas” porque “as pessoas estão mais à vontade para poderem circular mais na rua”.

Ao lado, aparece Maria Rodrigues a vestir um bebé de brinquedo. É numa loja de roupas para bebés que a comerciante explica que a partir de setembro vai voltar ao horário praticado antes da pandemia.

“Às 18:30 para nós também não é muito bom, porque há sempre pessoas que regressam dos trabalhos e gostam sempre de entrar e querer comprar e depois o empregado, se é para sair às 18:30, não está cá até às 19:00”, diz.

De acordo com a funcionária, nos últimos meses, às vezes, queria fechar as portas e não conseguia porque os clientes não paravam de entrar, ressalvando que “em meia hora ainda aparecem pessoas” e é possível fazer mais algum dinheiro.

Por sua vez, Jorge Petri, dono de uma churrasqueira, explica que tem dois horários de funcionamento e que, no da noite, teve de reduzir em duas horas, devido à diminuição de movimento.

“A crise maior foi em relação à sala, que nós diminuímos o horário de atendimento. Hoje, nós atendemos do meio-dia às 15:00 e no horário da noite nós atendemos das 19:00 às 21:00. É o maior horário que nós conseguimos fazer”, aponta.

Com uma média de 100 clientes por dia, o empresário reconhece que a circulação de pessoas é pequena no seu restaurante por não ter serviço de esplanada.

“Como nós não temos esplanada nesta rua, as pessoas, por conta do verão, tendem a preferir locais com esplanada, então sentimos também um reflexo nesse sentido”, conclui.

LUSA/HN

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