“Estamos a sentir e a observar que algumas pessoas pensam que a pandemia já acabou e que não precisam de cumprir qualquer medida e isso não é verdade”, frisa em entrevista à agência Lusa o chefe-adjunto do programa de doenças do ECDC, Piotr Kramarz.
“Pode ser um pequeno gesto [de cada um], mas é muito importante para parar este ressurgimento” de casos na Europa, acrescenta o responsável.
Questionado se esta descontração dos cidadãos poderá estar a contribuir para o aumento de casos em países como Portugal, o cientista admite que “há diferentes fatores [para justificar este aumento]” e “um deles poderá ser o aumento dos testes”.
“Mas o que estamos a verificar é que o ressurgimento real está relacionado com o relaxamento das medidas, em termos individuais”, reforça Piotr Kramarz.
E este cenário, de acordo com o cientista, poderá também estar relacionado com a altura do ano, o verão: “Vemos nalguns países que as pessoas estão relaxadas relativamente a este vírus e estão, provavelmente, a encontrar-se com outras e a frequentar espaços lotados, nomeadamente durante as férias, e agora estão a regressar de vários ‘resorts’ e outros lugares”.
Situações que se verificam “não necessariamente atravessando as fronteiras, [já que] isto acontece dentro dos países”, explica Piotr Kramarz.
Aliás, de acordo com o especialista, “o papel das viagens não é muito significativo nesta fase”, dado que “existe transmissão comunitária dentro dos países”.
“E é bastante importante que nos foquemos nisto e que não dispersemos os nossos esforços para a restrição das viagens porque essa não é a prioridade” neste momento, pede Piotr Kramarz, assegurando que “a contribuição das pessoas [infetadas] a chegar em aviões não é muito grande” na Europa.
É, antes, “por causa deste relaxamento das medidas [que] a pandemia se está a propagar”, insiste.
Por isso, o responsável apela a que “toda a gente se lembre que tem de seguir algumas regras básicas […], como por exemplo o distanciamento físico de pelo menos dois metros, a lavagem das mãos, proteger a cara enquanto tosse e, em algumas situações, usar máscaras”.
Questionado pela Lusa se prevê que a Europa volte a precisar de um novo confinamento geral, como aconteceu entre meados de março até início de abril, o especialista assinala que “este tipo de medidas tem enormes consequências em termos económicos e sociais”, sugerindo antes a aplicação, por parte dos países europeus, de “medidas mais direcionadas, baseadas numa análise da situação e [dirigidas para] onde as infeções acontecem e em que contextos”.
Como exemplo, Piotr Kramarz nota que “há determinados locais onde a transmissão é mais intensa, como ginásios, discotecas, bares, pelo que os países podem considerar introduzir restrições em espaços como estes”.
“As medidas devem ser mais direcionadas e baseadas em análises locais da situação e também temos de nos lembrar em proteger a população mais vulnerável, como os idosos ou as pessoas com outras complicações, que devem ser protegidas em qualquer altura”, aconselha.
Ainda assim, a hipótese de novo confinamento não está descartada.
“Teremos de ver como a situação evolui. É muito difícil prever porque é um vírus muito novo e apesar de termos aprendido bastante nos últimos seis, sete meses, ainda há muitas incógnitas”, justifica.
Piotr Kramarz lembra, ainda, que “foi possível verificar algum cansaço após a quarentena ou o confinamento, com as pessoas a ficarem cansadas destas medidas, como usar máscara, e provavelmente isso também contribuiu para o relaxamento”.
“Neste sentido, é bastante importante comunicar, de forma clara, que a história ainda não terminou, que o vírus ainda não se foi embora, e que não devemos baixar a aguardar”, conclui na entrevista à Lusa.
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
NR/HN/LUSA
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