Estudo da Universidade de Coimbra defende novas soluções construtivas para diminuir impacto dos incêndios

1 de Agosto 2022

É urgente alterar a forma de construção e reabilitação de edifícios e infraestruturas nas zonas críticas de interface urbano-florestal, face aos incêndios florestais, revelam as conclusões preliminares de um estudo da Universidade de Coimbra (UC), esta segunda-feira divulgadas.

O trabalho, que junta vários grupos de investigação da UC (Engenharia, Geografia, Economia e Direito) foca-se “na promoção de um ambiente construído sustentável, resistente e resiliente para mitigar os impactos diretos e indiretos, a nível económico, social e humano, dos incêndios florestais”.

Citado em nota de imprensa enviada à agência Lusa, Hélder Craveiro, coordenador do projeto e investigador no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), afirmou que o estudo tem como grande objetivo “responder de forma direta aos graves problemas que surgiram nas últimas décadas por falta de planeamento e ordenamento do território”.

Os primeiros resultados do projeto revelam que a ocorrência de incêndios florestais junto de zonas urbanas “obriga ao desenvolvimento de novas soluções construtivas resistentes ao fogo em zonas urbanas de risco de exposição agravado, com a implementação de normas de construção para a interface urbano-florestal recorrendo a análises baseadas no desempenho, mitigando as vulnerabilidades dos edifícios a eventos extremos”, acrescentou.

Além disso, a equipa da UC defende como “fundamental” que seja feita a caracterização da envolvente dos perímetros urbanos, “identificando a sua suscetibilidade a incêndios florestais, para implementação de medidas mitigadoras”.

Foram também identificados os materiais usados na construção que são “mais vulneráveis” ao fogo e que, de acordo com Hélder Craveiro, “infelizmente, proliferam no nosso país”, como por exemplo os painéis sandwich com núcleo de poliuterano (um polímero usado em espumas rígidas ou flexíveis, entre outros materiais), utilizados em revestimentos de fachadas e coberturas de edifícios.

Designado Interface Segura, o projeto “possui uma componente experimental muito forte”, incluindo “múltiplos ensaios de campo de incêndio real”, realizados em colaboração com a Escola Nacional de Bombeiros, “beneficiando das práticas de treino de fogo controlado para instrumentar e monitorizar o comportamento do fogo e avaliar o seu impacto em edifícios”, acrescentou Hélder Craveiro.

Com base nesta informação recolhida no terreno e em ferramentas informáticas de simulação para avaliar o comportamento do fogo ao nível concelhio (macroescala) e ao nível dos edifícios (microescala), a equipa de investigadores da UC identificou, através de um caso de estudo no concelho de Coimbra, “as zonas mais vulneráveis a incêndios na interface urbano-florestal”.

“Esta abordagem permite simular o desenvolvimento e propagação de incêndios e avaliar com elevado nível de detalhe o impacto de cenários extremos, como os que estamos a viver, no ambiente construído, avaliando as vulnerabilidades de edifícios e infraestruturas”, relatou o especialista da FCTUC.

Face às alterações climáticas, o coordenador do estudo frisou que a “frequência e severidade dos incêndios tenderá a aumentar, conduzindo à extrema necessidade de implementação de medidas e reformas estruturais ao nível do ambiente construído e da floresta nas zonas de interface urbano-florestal, mitigando impactos diretos e indiretos nas comunidades”.

Esta abordagem, segundo Hélder Craveiro, permitirá, a curto ou médio prazo, “reduzir riscos para as comunidades” e possibilitar “uma reforma florestal sólida e eficaz (reformulação da paisagem, compartimentação e valorização florestal), que naturalmente levará anos a ser concretizada”.

Após a conclusão do projeto, prevista para o final do ano, a equipa de investigadores da UC pretende elaborar e enviar ao Governo e aos municípios um documento “com recomendações para a implementação de políticas, quer do ponto de vista do ambiente construído e gestão florestal nas imediações de zonas urbanas, quer ao nível de resiliência para as comunidades”.

LUSA/HN

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