“Temos crianças que hoje não sabem andar, não sabem correr, nem sabem cair. Isto tem um impacto tremendo no seu desenvolvimento motor e na sua saúde”, afirmou o titular das pastas da Saúde e Desporto nos Açores, Clélio Meneses.
O governante falava à margem de uma visita à Escola Básica Integrada Francisco Ferreira Drummond, na ilha Terceira, onde decorriam provas de avaliação do projeto Despertar, realizado em parceria com a Universidade do Porto.
O estudo, que arrancou em setembro de 2022, pretende fazer um diagnóstico da condição física das crianças e jovens da região.
Até ao momento, foram avaliadas “cerca de 500 crianças”, nas ilhas das Flores, Corvo e Graciosa, de um universo de cerca de 7.000 alunos nos Açores.
A recolha de dados, que deverá abranger pelo menos 60% do total de crianças e jovens do arquipélago, deverá estar concluída “até ao final do ano letivo”.
Os dados serão depois “tratados por uma equipa multissetorial, liderada em termos científicos pela Universidade do Porto”, estando prevista a conclusão do estudo até ao final de 2023.
Numa altura em que o projeto prossegue nas duas ilhas mais populosas do arquipélago, Terceira e São Miguel, o secretário regional da Saúde destacou a importância do diagnóstico, admitindo que os resultados sejam preocupantes.
“A constatação que se tem é que vivemos num tempo em que as crianças não têm muita atividade física, quer seja por um conjunto de outros hábitos, quer seja pelo facto de terem muitas atividades que não implicam atividade física, quer seja através também do medo que os pais e as famílias põem sobre as crianças na sua atividade física”, apontou.
Segundo Clélio Meneses, a pandemia de covid-19 “foi um fator acrescido de preocupação”, porque acentuou uma “tendência para o sedentarismo” já existente.
“É evidente que há um défice motor das crianças, comparativamente há duas, três décadas atrás, que é muito significativo e preocupante”, reconheceu.
No decorrer do estudo, sempre que forem identificadas “questões preocupantes ou com algum grau de risco”, as crianças serão “encaminhadas para a respetiva unidade de saúde, para terem o acompanhamento médico adequado”.
“Através deste diagnóstico é que se consegue perceber se é necessário. Se não se estivesse a fazer isso, muitas situações preocupantes ao nível de saúde não seriam detetadas em tempo oportuno”, salientou o titular da pasta da Saúde.
Questionado sobre as medidas que o executivo pretende adotar para combater o défice motor das crianças e jovens, Clélio Meneses disse que será o estudo a dar indicações do caminho a seguir.
“Qualquer medida que seja tomada relativamente ao desenvolvimento desportivo ou à saúde tem de ter um bom diagnóstico. O que estamos a fazer é um diagnóstico, cientificamente sustentado, através da Universidade do Porto, no sentido de encontrarmos parâmetros e níveis de literacia motora que alicercem as decisões que vão ser tomadas”, adiantou.
Apesar dos indícios que apontam para um défice motor das crianças e jovens, “os Açores são a região do país em que, em geral, se pratica mais atividade física, em termos associativos”.
LUSA/HN
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