OMS alerta que cinco mil milhões de pessoas ainda não estão protegidas das gorduras trans

23 de Janeiro 2023

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu em 2018 uma meta para eliminar os ácidos gordos insaturados da dieta mundial até 2023. Contudo, no relatório de acompanhamento hoje publicado, a organização reconhece que tal meta "é inatingível neste momento".

As gorduras trans “não têm benefício conhecido e representam enormes riscos para a saúde, que acarretam custos gigantescos para os sistemas de saúde”, lembra o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado num comunicado à imprensa.

O responsável exorta ainda a indústria a livrar-se “de uma vez por todas” destes “químicos tóxicos que matam”.

Hoje, apenas 43% da população mundial tem alguma forma de proteção contra estes produtos, que a OMS estima causarem doenças cardíacas responsáveis por 500 mil mortes por ano.

Dos 60 países que têm alguma estratégia para eliminar as gorduras trans industriais, apenas 43 adotaram as melhores práticas: um limite obrigatório para que não representem mais de 2% dos óleos e gorduras em todos os produtos alimentícios, ou uma proibição em gorduras parcialmente hidrogenados.

Entre eles estão Portugal e outros países europeus como Espanha, França Itália, Bulgária, Bélgica, Áustria, Croácia, Chipre, Dinamarca, Alemanha e Malta, por exemplo.

Em Portugal, o limite definido é inferior a duas gramas de gorduras trans por cada 100gr para todos os alimentos. Segundo a OMS, a proporção de mortes em Portugal por doenças coronárias devido à ingestão destas gorduras é de 2,08%.

Os ácidos gordos trans industriais são encontrados em gorduras vegetais solidificadas, como margarina e manteiga clarificada (ghee), e são frequentemente encontrados em salgados, alimentos assados e fritos. Os fabricantes usam-nas porque têm uma vida útil mais longa e são mais baratas do que outras gorduras.

“Existem certas regiões do mundo que não acreditam que o problema exista”, observou Francesco Branca, responsável pela segurança alimentar da OMS, durante uma conferência de imprensa, lembrando que estes produtos têm alternativas que, segundo a organização, não são mais caras.

Atualmente, nove dos 16 países com a maior proporção estimada de mortes por doenças coronarianas causadas pela ingestão de gordura trans não adotaram as recomendações. São eles Austrália, Azerbaijão, Butão, Equador, Egito, Irão, Nepal, Paquistão e Coreia do Sul.

“Os ácidos gordos trans matam pessoas e deveriam ser banidos”, afirmou na conferência de imprensa Tom Frieden, ex-chefe dos Centro Americano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e presidente da Resolve to Save Lives, que luta contra as doenças cardiovasculares.

“Simplesmente não há desculpa para um país não tomar medidas para proteger o seu povo desse produto químico tóxico produzido pelo homem”, disse o responsável, acrescentando: “Você pode eliminar os ácidos gordos trans sem alterar o custo, o sabor ou a disponibilidade de ótimos alimentos”.

A OMS indica que o México, a Nigéria e o Sri Lanka planeiam tomar medidas em 2023. “Se as adotar, a Nigéria será o segundo país da África e o mais populoso a implementar uma política de boas práticas de eliminação de gorduras trans”, insiste a organização.

Nenhum país subdesenvolvido adotou até agora uma política de melhores práticas para a eliminação de gorduras trans.

O México – onde o problema é omnipresente – “está prestes a entrar em ação”.

“Esperamos ver o México, com a Nigéria, a cruzar a meta num futuro próximo”, afirmou Tom Frieden.

“As gorduras trans não se veem. Não se sabe que estão lá. Se a pessoa tiver um ataque cardíaco e morrer, talvez não saiba o que o causou”, alertou o responsável, manifestando-se otimista relativamente ao facto de o mundo poder “relegar as gorduras trans ao esquecimento”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This