Médicos moçambicanos adiam assembleia-geral sobre prorrogação da greve

18 de Agosto 2023

A Associação Médica de Moçambique (AMM) anunciou o adiamento para domingo da assembleia-geral que havia sido marcada para esta sexta-feira, em Maputo, para decidir sobre a prorrogação da greve da classe, em curso desde 10 julho.

“Adiamos a reunião por motivos de força maior”, explicou à Lusa o porta-voz da AMM, Napoleão Viola, sem avançar mais detalhes.

O encontro, que vai juntar representantes de médicos de diversas províncias, tem um único ponto de agenda: decidir sobre a prorrogação da greve da classe, que protesta sobretudo contra cortes salariais, no âmbito da aplicação da nova tabela salarial da função pública, e falta de pagamento de horas extraordinárias, declarou a fonte,

A assembleia-geral, a decorrer na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, às 14:00 locais (13:00 em Lisboa), ocorre após o Conselho de Ministros considerar que as principais exigências da classe não encontram enquadramento na lei, não descartando a possibilidade de afastar os médicos que insistirem no protesto, principalmente os profissionais que estão nas categorias de especialização e nomeação provisória.

“No geral, o que se coloca é que o médico reclama que devia ser pago quatro vezes mais nas suas horas extras em relação a qualquer outro funcionário (…). Bom, convenhamos, isto é relativamente estranho e diferenciador (…). Já agora é ilegal”, declarou à comunicação social Inocêncio Impissa, porta-voz do Governo, após o Conselho de Ministros na terça-feira em Maputo.

A AMM considera que o posicionamento do executivo moçambicano mostra que não há qualquer interesse em resolver o problema, ameaçando paralisar os serviços mínimos que a classe tem prestado desde o início da greve e observando que a “nobreza” do trabalho dos médicos justifica um tratamento diferenciado.

“O nosso trabalho é diferenciado e nobre e por isso merecemos tratamento diferenciado. Aliás, é preciso recordar que durante muito tempo os médicos foram os únicos licenciados a aceitarem trabalhar nos distritos mais recônditos e nas condições mais deploráveis. Estranhamos que o mesmo governo que ontem nos chamou de heróis, hoje acha que devemos ter o mesmo tratamento que os outros profissionais da função pública”, acrescentou o presidente da AMM, Milton Tatia, numa conferência de imprensa.

Além de ameaçar paralisar a assistência mínima nas unidades de saúde, a AMM pondera exigir que se cumpra integralmente com o caderno reivindicativo inicial, de 28 de outubro de 2022, que incluía muito mais exigências, segundo a classe.

“O nosso Governo, em vez de dialogar, tem estado a optar por intimidações. Aliás, como devem ter-se apercebido, na semana passada, nós tentámos realizar uma feira de saúde aqui na cidade de Maputo e esta feira foi interrompida por alegadas ordens superiores. Nós fomos praticamente escorraçados do local onde estávamos a realizar a feira”, lamentou Milton Tatia, acrescentando que a feira foi impedida pelas autoridades também na província de Tete e Manica, centro de Moçambique.

Os médicos moçambicanos estão em greve, que já foi prolongada uma vez, desde 10 de julho, com a observância de serviços mínimos nas unidades de saúde, protestando sobretudo contra cortes salariais, no âmbito da aplicação da nova tabela salarial da função pública, e falta de pagamento de horas extraordinárias.

No início do mês, o Governo moçambicano disse que os médicos que faltarem ao trabalho devido à greve em curso vão ser responsabilizados, alegando que já resolveu a maior parte dos problemas e anunciando a contratação de novos profissionais.

A AMM, que considera que os problemas persistem, classificou o posicionamento do Governo como uma intimidação, tendo submetido uma providência cautelar ao Tribunal Administrativo.

A aplicação da nova tabela salarial na função pública está a ser alvo de forte contestação por parte de várias classes profissionais, com registo de atrasos salariais e cortes criticados por vários segmentos do aparelho do Estado moçambicano.

LUSA/HN

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