Em declarações à agência Lusa, à porta do Hospital de São João, no Porto, o secretário regional do SIM Norte, Hugo Cadavez, disse ser “cedo para balanços”, mas “o cansaço” dos profissionais de saúde leva-o a crer que a greve da região Norte que se prolonga até quinta-feira terá “um grande impacto”.
“Esta greve, embora tenha começado à meia-noite de hoje, da meia-noite até às 08:00 funcionam os serviços mínimos e esses serviços estão sempre assegurados. Mas a partir da manhã começará a sentir-se o impacto, sobretudo nos blocos operatórios onde esperamos uma elevadíssima adesão”, disse Hugo Cadavez.
Apontando que os médicos têm sido “infelizmente forçados a fazer greve”, o responsável voltou a criticar o Governo por “não apresentar propostas razoáveis” para “travar de uma vez por todas o desinvestimento na carreira médica”.
“Os nossos apelos não têm tido qualquer retorno por parte do Governo. Depois de um ano de negociações [o prazo negocial acabou a 30 de junho], não há uma proposta formal por parte do Governo. É muito difícil um acordo quando, depois de um ano de inflação de 7%, o Governo apresenta uma proposta de aumento salarial de 1,6%. Mas mantemos toda a disponibilidade para chegar a um acordo”, referiu.
Hugo Cadavez também espera “um grande impacto nos cuidados de saúde primários”, porque “a insatisfação dos médicos de família tem sido muito grande com o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
O secretário regional do SIM Norte lembrou que “há um milhão e 600 mil pessoas sem médico de família”, considerando que este é “o resultado do desinvestimento na carreira médica e da baixa atratividade que o SNS tem para os médicos”.
“O SNS tem tido uma incapacidade enorme em captar médicos. Em 2020 e 2021 saíram mais de 2.000 médicos do SNS apenas por rescisão de contrato e nem estou a contabilizar os que saíram e vão sair por aposentação. Sabemos que vamos atingir novamente um pico de saídas”, acrescentou.
Para Hugo Cadavez, “o desinvestimento na carreira médica que tem levado ao encerramento de serviços de urgência de forma rotineira” tem sido “propagandeado e camuflado” com expressões como “Nascer em Segurança”.
“Não são mais do que encerramentos de serviços com nomes bonitos”, concluiu.
Os médicos da Administração Regional de Saúde Norte iniciaram hoje uma greve de dois dias convocada pelo SIM, exigindo que o Governo integre toda a classe médica na tabela remuneratória única da função pública.
Esta convocatória prevê uma paralisação até às 24:00 de quinta-feira
O SIM exige que os Ministérios das Finanças e da Saúde apresentem “uma proposta de grelha salarial que reponha a carreira de perdas acumuladas por força da erosão inflacionista da última década e que posicione com honra e justiça toda a classe médica, incluindo os médicos internos, na tabela remuneratória única da função pública”.
Nesta greve estão abrangidos 12 hospitais e 11 Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), estando assegurados os serviços mínimos.
A paralisação, segundo o SIM, terá impacto no Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto), Unidade Local de Saúde (ULS) de Matosinhos (Porto), Centro Hospitalar (CH) Póvoa de Varzim/Vila do Conde (Porto), CH do Tâmega e Sousa (Porto), CH do Médio Ave, Unidade Local Saúde (ULS) do Alto Minho (Viana do Castelo), CH de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real), ULS do Nordeste (Bragança), Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses do Norte, Hospital Forças Armadas (Porto), Instituto Português do Sangue e da Transplantação (Porto) e Divisão Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (Porto).
Também os ACES de Alto Trás-os-Montes – Alto Tâmega e Barroso, Douro I – Marão e Douro Norte, Douro II – Douro Sul, Grande Porto I – Santo Tirso/Trofa, Grande Porto III – Maia/Valongo, Grande Porto IV – Póvoa do Varzim/Vila do Conde, Grande Porto VI – Porto Oriental, Tâmega I – Baixo Tâmega, Tâmega II – Vale do Sousa Sul e Tâmega III – Vale do Sousa Norte estarão afetados.
A ARS Norte tem ainda prevista mais uma greve nos dias 20 e 21.
LUSA/HN
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