Este emblemático pensamento do saudoso pai do SNS, António Arnaut, mesmo já em fase debilitada pela doença, tinha a consciência que a destruição das carreiras no SNS, iria arruinar imenso o mesmo e por em causa, tudo aquilo que se construi em 40 anos do Sistema Nacional de Saúde.
Nunca essa opinião foi tão correta e tão verdadeira nos tempos que correm, basta ver o que se vai passando nos vários setores do SNS, para percebermos tudo aquilo que essa destruição das carreiras provocou, direi que foi o mote para o aparecimento dos privados, para fazer da saúde dos portugueses um negócio rentável, onde vai florescendo quase como cogumelos, várias entidades ligadas ao negócio da saúde, negócio esse que é sustentado em boa parte pelo estado, consequentemente por todos nós, pois é dos nossos impostos que sai a grande fatia que, vai sustentando grandes grupos particulares no setor da saúde.
Comemoramos em simultâneo a Democracia e o SNS, datas emblemáticas e de grande importância para todos nós, porém, urge discutir verdadeiramente a importância do SNS e da democracia, tendo em conta que o acesso à saúde sem restrições, com todas as condições necessárias para uma boa prática dos cuidados assentes na humanização, é um ganho civilizacional da consequência democratização que o país obteve com a luta de poucos.
Porém também é necessário ressalvar e salientar que os profissionais devem exercer a sua profissão com um sentido de vocação e dedicação à causa pública, não basta só pedir reposição de regalias e outros direitos, quando deixamos de nos interessar pelo bom funcionamento das instituições onde partilhamos uma boa parte da nossa vida.
É necessário que cada um faça a sua parte, o desperdício é um cancro que existe em todos os setores das sociedades, contudo na saúde ele assume uma importância de grande relevância, é urgente que todos pensemos que se não formos rigorosos com aquilo que gastamos em excesso, muitas das vezes por negligência, estamos a ajudar a afundar um pouco mais o SNS, aquele que muitas das vezes recorremos para nos valer das nossas maleitas.
Portugal vive e respira democracia, mas temos de ter em conta que a mesma vem sendo cada vez mais posta em causa, quando sentimos que determinadas classes profissionais detêm um poder sobre todas as outras, conseguindo de uma forma ou de outra os seus intentos, sugando os recursos para si, sem pensar que existem outros que com a sua “insignificância” são bastante importantes para que os mesmos possam estar no patamar mais acima, é de ficar apreensivo pelo rumo que a mesma toma.
Caminhamos a passos largos para uma sociedade cada vez mais envelhecida, em que os constrangimentos socioeconómicos dessa faixa etária, já estão a provocar uma mudança nos SNS, e consequentemente uma pressão a todos os níveis sobre o mesmo, é de suma importância relembrar que o acesso à saúde é um direito de todos sem exceção, a mesma não pode ser visto como um negócio, e que a situação económica de cada um é que ditará o acesso à mesma, se caminharmos nesse sentido, caminharemos cada vez mais para o final da democracia.
Adão Rocha
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