É preciso proteger os jovens das “táticas predatórias” da indústria do tabaco

30 de Maio 2024

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) alertou hoje para a necessidade de proteger as crianças e jovens das “táticas predatórias” da indústria do tabaco, travando a comercialização dos novos produtos, cujo consumo aumentou exponencialmente em todo o mundo.

Na véspera de se assinalar o Dia Mundial Sem Tabaco, os pneumologistas alertam igualmente numa campanha da SPP para “o ‘marketing’ enganoso e perverso da indústria nas plataformas digitais e redes sociais, sobretudo dirigido para as crianças e adolescentes”, sublinhando que “há uma rede de ‘influencers’ digitais pagos pela indústria para promover expressamente os seus produtos”.

“O próprio ‘design’ e desenvolvimento dos produtos, os sabores, os aromas que são incorporados, como sabor a pastilha elástica, a morango, a baunilha, atraem muito os jovens e as crianças”, disse à agência Lusa a coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP, Sofia Ravara.

A pneumologista realçou que o consumo destes produtos “aumentou exponencialmente” em todo o mundo, nos jovens, nas crianças e nos adolescentes, e “fez disparar o consumo de tabaco” em alguns países onde se estava a assistir a uma diminuição continuada.

Apontou como razões para este facto, os novos produtos (tabaco aquecido, ‘shisha’, ‘vapes’) normalizarem o tabagismo, observando que as crianças e os adolescentes ao experimentarem, por exemplo, os cigarros eletrónicos, “têm até três vezes mais probabilidade de experimentarem tabaco e até outras substâncias aditivas como a canábis”.

Perante esta realidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) “pediu muito para a sociedade civil se organizar e os governos darem mais apoio a campanhas de sensibilização e educação sobre as táticas enganosas da indústria, não só para os adultos, mas sobretudo para mobilizar a os jovens”.

Sofia Ravara defendeu ser “muito importante” sensibilizar os jovens para que percebam que são “a vítima ou o isco preferencial da indústria, que precisa de repor novos fumadores – uma vez que os fumadores mais velhos morrem antes do tempo – e para que sintam que é importante prevenir o tabagismo e expor as táticas da indústria”.

Segundo a especialista, não é preciso esperar muito tempo para as pessoas começarem a adoecer com estes produtos, adiantando que se está a assistir a casos clínicos muito graves de doença respiratória aguda pela utilização do cigarro eletrónico e de pneumonias inflamatórias devido ao tabaco aquecido.

“Sabe-se que a nicotina prejudica muito o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento cerebral na criança e no adolescente, o que é “uma preocupação grande”, afirmou, realçando que são produtos “altamente aditivos” e causam danos desnecessários à saúde.

Contudo, vincou, “há tratamento seguro, eficaz, para tratar” a adição à nicotina, apelando aos utilizadores para falarem com um profissional de saúde para os ajudar a deixar de fumar.

Segundo Sofia Ravara, 96% dos fumadores portugueses, independentemente do sexo, têm uma motivação baixa para deixar de fumar, o que atribuiu a Portugal ser “muito pouco proativo” a implementar as políticas públicas de controlo do tabagismo da Convenção Quadro da OMS.

“Mesmo no papel, as leis aprovadas têm falhas, não seguem as ‘guidelines’ e as recomendações da Convenção Quadro e isto tudo por interferência da indústria, que prejudica a implementação das políticas fazendo lobby junto dos setores políticos e dos governos e alterando as leis”, criticou, lamentando que Portugal esteja na cauda da Europa relativamente à prevenção e controlo do tabagismo.

Segundo Inquérito do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências 2022, o consumo de tabaco mantém-se muito elevado nos adultos, progredindo até à idade média e só baixa significativamente a partir dos 65 anos.

LUSA/HN

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