“Tal como em muitos países, em Portugal tem havido um subinvestimento crónico na saúde mental”, disse Miguel Xavier à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala no sábado e tem como lema este ano “Maior investimento, maior acesso”.
Para o psiquiatra, “há uma enorme desproporção entre o impacto que os problemas de saúde mental têm e aquilo que é investido a nível dos cuidados de saúde primários e dos serviços especializados”.
“Não se pode esperar que a saúde mental das populações esteja bem se não houver um investimento proporcional”, alerta, considerando que este será “um dos maiores desafios dos próximos anos, mas já a curto prazo”.
Atualmente é possível comparar o impacto e a carga social em termos de custos diretos e indiretos que as várias áreas da saúde e da demência têm nas sociedades e o que se verifica é que “a doença mental aparece sempre em primeiro ou segundo lugar” com uma carga global de 10% a 15%.
Este valor deveria representar o financiamento do Serviço Nacional de Saúde nesta área. Contudo, as estimativas apontam para um financiamento entre 4% e 5%, “o que é muito pouco”.
Miguel Xavier defende que este valor devia “subir um pouco” todos os anos, de “uma forma ponderada, mas fazendo as apostas certas”, nomeadamente onde há as “maiores falhas”: nos cuidados de proximidade e nas respostas nos cuidados de saúde primários, para onde devia ir “a maior parte da aposta financeira” nos próximos anos.
Sobre o apoio que o Ministério da Saúde tem dado ao Programa Nacional para a Saúde Mental, Miguel Xavier afirmou que estão “numa fase de grande consonância e de grande sobreposição”.
“Estamos a trabalhar juntos e estão a fazer-se investimentos importantes, mas há alguns que ainda faltam, por exemplo, a nível dos cuidados de saúde primários”, disse.
A maior parte das respostas que estão disponíveis nos centros de saúde para quem está em sofrimento psicológico são fundamentalmente de natureza farmacológica, porque faltam psicólogos e programas implementados no tratamento da depressão e da ansiedade ligeira a moderada.
“É preciso que haja muitíssimos mais psicólogos nos centros de saúde por esse país fora”, diz Miguel Xavier, reconhecendo que “isto não se vai fazer de um dia para o outro, mas é preciso começar”, porque senão “Portugal aparecerá inevitavelmente com um país de elevado consumo de psicofármacos”.
Miguel Xavier defende ainda que os serviços funcionarão “muito melhor” em proximidade, realçando a importância da criação das primeiras cinco equipas comunitárias de adultos, às quais se seguirá outras tantas para a infância e adolescência.
“Isto são passos absolutamente cruciais para que as equipas estejam perto das pessoas. Quanto mais perto estiverem, mais fácil é o acesso ao tratamento”, defende.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de mil milhões de pessoas vivem com uma doença mental em todo o mundo e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio.
LUSA/HN
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