Microplásticos podem acumular-se mais no cérebro do que nos rins ou no fígado

4 de Fevereiro 2025

Pequenas partículas de plástico podem acumular-se a níveis mais elevados no cérebro humano do que nos rins e no fígado, com concentrações mais elevadas detetadas em amostras de cadáveres de 2024 do que nas de 2016.

Embora as possíveis implicações para a saúde humana permaneçam pouco claras, estas descobertas evidenciam uma consequência das crescentes concentrações globais de plásticos ambientais, afirmam os cientistas por detrás da investigação, publicada na revista Nature Medicine.

Os cientistas sublinham que a quantidade de nanopartículas e micropartículas de plástico aumentou exponencialmente nos últimos 50 anos.

Matthew Campen e a sua equipa de ciências da saúde da Universidade do Novo México nos Estados Unidos utilizaram técnicas inovadoras para analisar a distribuição de micro e nanopartículas em amostras de tecido do fígado, dos rins e do cérebro de pessoas que foram submetidas a autópsias em 2016 e 2024.

De acordo com Campen, as concentrações de plástico no cérebro parecem ser mais elevadas do que no fígado ou nos rins, e mais elevadas do que os relatórios anteriores para placentas e testículos. “Os resultados devem fazer soar o alarme”, afirma num comunicado da universidade.

Para chegar às suas conclusões, os investigadores analisaram um total de 52 amostras de cérebro (28 em 2016 e 24 em 2024); detetaram estas partículas em todas elas e encontraram concentrações semelhantes nas amostras de tecido do fígado e dos rins obtidas em 2016.

No entanto, as amostras de cérebro recolhidas nessa altura, todas provenientes da região do córtex frontal, continham concentrações substancialmente mais elevadas de partículas de plástico do que os tecidos do fígado e dos rins.

A equipa também descobriu que as amostras de fígado e cérebro de 2024 tinham concentrações significativamente mais elevadas de micro e nanopartículas de plástico do que as de 2016.

Em seguida, compararam estes resultados com os de amostras de tecido cerebral de períodos anteriores (1997-2013) e verificaram que havia concentrações mais elevadas de partículas de plástico nas amostras de tecido mais recentes.

Os cientistas também observaram uma concentração 10 vezes maior de partículas micro e nanoplásticas em 12 cérebros de indivíduos com um diagnóstico documentado de demência do que naqueles sem diagnóstico.

No entanto, os próprios autores salientam que os resultados não estabelecem uma relação causal entre as partículas de plástico e os efeitos na saúde.

Sugerem também que algumas variações nas amostras de cérebro podem dever-se a diferenças geográficas, uma vez que as amostras foram recolhidas no Novo México e em locais na costa leste dos Estados Unidos.

Por conseguinte, afirmam que são necessários mais estudos a longo prazo com populações maiores e mais diversificadas para determinar as tendências de acumulação de micropartículas e nanopartículas e as suas potenciais implicações para a saúde.

Estes resultados sublinham a necessidade crítica de compreender melhor as vias de exposição, absorção e eliminação e as potenciais consequências para a saúde dos plásticos nos tecidos humanos, em particular no cérebro, concluem os investigadores no seu artigo.

Nos últimos anos, surgiram vários estudos científicos sobre os microplásticos e o corpo humano.

Na semana passada, por exemplo, foi publicada na revista Pregnancy uma investigação que indicava que os microplásticos – mais pequenos do que 5 milímetros – e os nanoplásticos, invisíveis a olho nu, se encontravam em concentrações mais elevadas nas placentas de bebés nascidos prematuramente do que nos nascidos de termo.

No passado, os plásticos foram encontrados, entre outros, na secção mais profunda dos pulmões ou na corrente sanguínea dos seres humanos.

LUSA/HN

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