Especialistas querem psicólogos nas empresas e aposta na relação bem-estar/produtividade

9 de Maio 2025

A coordenadora do estudo hoje divulgado sobre ambientes de trabalho saudáveis defende que as empresas devem ter psicólogos e departamentos próprios, com orçamento e recursos, para apostar na relação entre o bem-estar dos trabalhadores e a produtividade.

“Está mais do que provada a relação entre o bem-estar do trabalhador e a produtividade da empresa e isto tem de fazer parte do plano estratégico e de atividades da empresa, com um departamento, com recursos alocados e orçamento, para que passe a ser estrutural”, disse à Lusa Tânia Gaspar, coordenadora do estudo do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (Labpats).

O trabalho, que será apresentado dia 14, em Lisboa, abrangeu mais de 3.800 profissionais de empresas nacionais e multinacionais, de diversas gerações, em áreas como a educação, saúde e gestão.

Entre as várias recomendações estão a criação de “políticas claras” de valorização do bem-estar dos trabalhadores, a seleção de lideranças “humanizadas e capacitadas em gestão emocional e comunicação empática” e a criação de programas internos de prevenção do ‘burnout’ e do assédio laboral.

Como exemplo da correlação entre o bem-estar do trabalhador e a produtividade da empresa, Tânia Gaspar contou: “Tenho uma paciente que teve ‘burnout’. Entretanto, vai reintegrar a empresa e fizemos uma proposta para ela sair uma hora e meia mais cedo. Combinou-se dar três meses para verificar a produtividade com menos essa hora e meia. E era igual, ou maior”.

“É uma coisa pequena, mas faz a diferença”, considerou a investigadora, sublinhando que as medidas que promovam a relação entre bem-estar e produtividade “deviam ser estruturantes no funcionamento das organizações”.

Outra das sugestões é que as empresas tenham psicólogos para poderem acompanhar os trabalhadores em permanência, prevenindo situações que se podem complicar.

A psicóloga defende “uma naturalização deste trabalho” que pode ser feito individualmente, ou com as equipas.

Aponta ainda o ‘burnout’, o assédio laboral, que no estudo tem vindo a aumentar nas organizações, e a falta de confiança na tomada de algumas decisões, ao aumento do consumo de substâncias e de álcool para concluir: “isto tem tudo que ver com o comportamento e com a saúde mental”.

“E aí, o psicólogo, lamento informar, é mesmo uma personagem central no trabalho da prevenção, sobretudo em situações que já se sabe que vão dar problemas. É preciso dar apoio não só nas baixas, como nos processos de reintegração após a doença, para diminuir o absentismo e o presentismo, que também têm aumentado”, afirma.

Recorda ainda que “muitas das doenças psicossomáticas e nunca se percebe o que é por vezes foi porque a pessoa andou a acumular coisas que nunca resolver”.

Tânia Gaspar aponta igualmente a importância da comunicação interna nas organizações, sublinhando: “Quando as empresas se fecham, há uma tendência para tomar decisões pela surdina e para as coisas serem mais secretas e serem tomadas decisões que caem em cima dos trabalhadores como se fosse um facto consumado”.

“E essa parte dos riscos psicossociais do trabalho relacionados com a falta de perceção de justiça e com a falta de informação é um fator que tem vindo a ser sempre aquele que é pior e que tem vindo a piorar”, afirma, alertando para a importância de ter os trabalhadores envolvidos nos processos de tomadas de decisão.

E insistiu: “Se lhes forem explicadas as medidas que são tomadas, as opções, é muito mais fácil [os trabalhadores] entenderem e aceitarem e até fazerem parte da solução”.

lusa/HN

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