Cabo Verde quer certificado de eliminação da transmissão VIH de mãe para filho

1 de Dezembro 2020

Cabo Verde tem uma prevalência de 0,6% do VIH-Sida, regista entre 400 e 500 novos casos por ano e quer obter já em 2021 a certificação da eliminação da transmissão vertical da doença, disse hoje fonte oficial.

Os dados foram avançados, na cidade da Praia, pela secretária executiva do Comité de Coordenação do Combate à SIDA (CCSSIDA) em Cabo Verde, Maria Celina Ferreira, durante o ato oficial para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA.

Segundo Maria Celina Ferreira, Cabo Verde tem neste momento uma prevalência de 0,6% do VIH-Sida na população em geral, que aumenta ligeiramente para 0,7% nas mulheres, enquanto nos jovens (15 a 25 anos) a taxa é nula.

 Celina Ferreira avançou que, por ano, o país diagnostica entre 400 e 500 novos casos de VIH, com maior incidência nas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Fogo, estando concentrados igualmente em certas populações vulneráveis, como profissionais do sexo ou consumidores de drogas.

Nesses casos novos, Celina Ferreira referiu que uma média de 15% é diagnosticado como sida, o que preocupada o comité, já que resulta de um diagnóstico tardio.

A secretária executiva avançou ainda que em Cabo Verde 81% das pessoas que vivem com VIH já conhecem o seu seroestatuto e destas 73% estão sob o tratamento antirretroviral e destes 41% tem carga viral suprimida.

 Disse ainda que um dos desafios do país é acelerar o processo para obter a certificação da eliminação da transmissão vertical (de mãe para filho) do VIH e sífilis e preparar o país para o cumprimento das metas dos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Essa certificação, explicou, só será obtida após avaliação independente da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que vai acontecer no primeiro trimestre do próximo ano.

Celina Ferreira indicou que serão avaliados um conjunto de critérios, como a questão dos direitos humanos, as leis, o processo do nascimento de cada criança, os cuidados de saúde, as maternidades, os laboratórios.

“Em 2021, vamos ter tudo definido porque já começamos isso desde 2018”, perspetivou a secretária executiva da CCSSIDA, entidade que é presidida pelo ministro da Saúde e da Segurança Social, Arlindo do Rosário, para quem o país “está muito bem colocado” para eliminar a transmissão materno infantil do vírus.

 O ministro da Saúde afirmou ainda que o país pode igualmente pedir aos jovens para que se protegem dos vírus, acabar com a violência contra mulheres e meninas e ainda proteger da infeção os usuários de drogas injetáveis.

Para manter e/ou melhorar os resultados, Arlindo do Rosário disse que é preciso um “forte compromisso” dos governos, mas também de solidariedade, sobretudo este ano “abalado” pela pandemia de covid-19.

As dificuldades provocadas pela pandemia foram referidas por Josefa Rodrigues, vice-presidente da rede das pessoas que vivem com o VIH, entendendo que veio expor as desigualdades sociais no seio das pessoas que padecem de doenças crónicas, sobretudo as que vivem com VIH-Sida.

“Neste momento, a palavra de ordem é solidariedade e responsabilidade de todos, neste duplo combate HIV-Sida e covid-19”, pediu.

Para Josefa Rodrigues, hoje os ganhos conseguidos na luta contra o vírus da Sida são visíveis no país, com destaque para o facto de nenhuma criança nascer infetada, mas pediu colaboração e envolvimento de todos para manter os resultados.

A cerimónia contou ainda com a presença da coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ana Graça, que destacou os programas e os resultados até agora pelo país no combate ao HIV e a “taxa muito baixa” de 0,6%.

A coordenadora da ONU sublinhou o “trabalho notável” dos parceiros e de todos os intervenientes e salientou que Cabo Verde tem possibilidade de ser elegível para a eliminação da transmissão de mãe para filho do VIH e da sífilis congénita.

Segundo dados avançados por Ana Graça, estima-se que no final de 2019 existiam 38 milhões de pessoas vivendo com o VIH, mais de dois terços das quais na região da África Subsariana.

Ana Graça referiu que o vírus continua a contaminar 1,7 milhões de pessoas por ano e provocar a morte a cerca de 600 mil pessoas em todo o mundo, embora entre 2000 e 2019 as novas infeções tenham caído cerca de 39% e as mortes diminuído 51%.

Este ano, o Dia Mundial de Luta contra a SIDA é assinalado sob o lema “No mundo com covid-19 e VIH-Sida, a solidariedade e responsabilidade partilhada fazem toda a diferença”, e durante o mês de dezembro serão realizadas várias atividades em Cabo Verde para reforçar a sensibilização, a prevenção e a despistagem.

LUSA/HN

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