Restauração de Ovar reclama medidas da Câmara após meses de “desinteresse total”

3 de Dezembro 2020

Essa é a principal mensagem a retirar dos dois encontros já realizados entre representantes de 60 estabelecimentos do concelho, para uma discussão participada que "funcionou como um gabinete de crise da restauração local".

“Já fecharam muitos restaurantes em Ovar e a situação está cada vez pior [devido à pandemia de Covid-19]. Noutros concelhos houve medidas para apoiar os restaurantes e o comércio, mas aqui o desinteresse é total e o que estas reuniões mostraram é que há muita gente magoada com a Câmara por nunca ninguém os ter contactado sequer para saber como estão, como estava a correr o negócio, se precisavam de alguma ajuda”, afirmou à Lusa Johnny Carrabau, um dos porta-vozes desse movimento.

Para o empresário, proprietário de um bar que foi inaugurado no final de 2019 após um investimento de 200.000 euros e que, entretanto, devido à pandemia, funcionou três meses “a meio-gás” e esteve seis completamente encerrado, “mais do que dinheiro [em ajudas], do que as pessoas se ressentem é da falta de apoio moral”.

Acrescentando que as gerências do setor “nunca foram ouvidas” e que “ninguém veio falar com elas nem por via oficial nem de modo informal”, o mesmo responsável não dispensa, contudo, eventuais subsídios e outros mecanismos de apoio.

“Já temos um buraco tão grande para tapar que não vai haver milagres, mas precisamos de apoios locais e do Estado para sobreviver e temos que ter perspetivas de longo prazo”, referiu.

Bruno Rilho, do restaurante “Quatro Sentidos”, diz que isentar de taxas camarárias as esplanadas, os reclamos luminosos e a recolha de resíduos em faturas da água de consumo inferior a sete metros cúbicos tem sido claramente insuficiente.

“O comércio de Ovar, na generalidade, já estava mal há muitos anos, mas, com a Covid-19, ficou ainda muito pior, sem que houvesse uma única pessoa da Câmara que nos entrasse pelo estabelecimento a perguntar nada”, argumentou.

Pedro Machado, do restaurante “A Toca”, reconhece que outros municípios da região vêm reagindo melhor à crise e, também nesse aspeto, culpa a postura da autarquia: “Anunciarem com tanto detalhe os números de casos ativos e a distribuição de infetados por freguesia tem o lado negativo de assustar quem não é de Ovar – as pessoas acham que está tudo doente e não vêm cá”.

Sobre a empresa de consultoria que custou 8.000 euros à autarquia para ajudar os empresários locais a candidatarem-se a apoios do Estado durante a pandemia, o mesmo gestor diz que esse dinheiro seria mais bem empregue noutra área. “Essa empresa não faz sentido nenhum, nunca nos contactou e nem sequer tem um número de telefone”, realçou.

“Além disso, todos nós temos os nossos próprios contabilistas para tratarem das candidaturas e continuamos a dar-lhes trabalho”, complementou Johnny Carrabau.

A lista de reivindicações que os empresários de restaurantes, bares, cafés e similares de Ovar vão esta quinta-feira apresentar à Câmara, em documento a que a Lusa teve acesso, apela não apenas ao executivo municipal, mas também às “juntas de freguesia e partidos políticos”.

Entre as medidas sugeridas para colmatar a “situação de extrema dificuldade financeira” em que se encontram os empresários locais do setor incluem-se três de caráter imediato e outras tantas de aplicação a médio prazo.

O setor começa por pedir “apoio no pagamento das taxas de resíduos sólidos, água, luz e renda”, explicando o documento que grande parte dos bares encerrados “pagam mais de 40 euros de água e resíduos sólidos, e mais de 40 euros em luz sem sequer terem qualquer consumo desses serviços, ao que acresce o pagamento da renda sem poderem tirar partido do respetivo espaço”.

Os empresários querem ainda que os seus clientes beneficiem de “isenção no pagamento dos parquímetros” e que a Câmara ajude a suportar “as despesas dos estabelecimentos comerciais nas entregas [de alimentação] ao domicílio”.

Já quanto a medidas de futuro próximo, os signatários do documento defendem que a Câmara deverá “canalizar para apoios ao setor comercial os excedentes orçamentais destinados à iluminação de Natal, de Carnaval e do [evento] FESTA”, e ainda “isentar os empresários do setor das taxas de ocupação pública das esplanadas, toldos, reclames publicitários ao longo de 2021” e não apenas em 2020. Querem igualmente que seja tornado público o resultado do estudo que “a Câmara mandatou a uma entidade externa de consultadoria”.

O documento insiste que a situação é de “extrema gravidade e afeta inúmeras famílias do município”, pelo que os subscritores concluem: “Necessitamos de soluções e não de intenções”.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,4 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 4.645 em Portugal.

LUSA/HN

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