António Costa falava aos jornalistas após mais uma reunião com epidemiologistas no Infarmed, em Lisboa, depois de interrogado sobre as consequências económicas e financeiras para o país resultantes do novo confinamento geral do país.
De acordo com o primeiro-ministro, ao longo da atual conjuntura de crise epidemiológica, “verificou-se sempre um sistema de vasos comunicantes”, já que sempre que foram abertas as atividades “melhora a economia, mas piora o combate à pandemia”.
“Por outro lado, sempre que se restringiram as atividades, tal ajudou a controlar a pandemia, mas criou um problema na economia. Portanto, a única forma é termos uma hierarquia de valores muito clara: Acima de tudo está a vida das pessoas, acima de tudo está a saúde das pessoas e não se pode hesitar”, respondeu.
Por isso, segundo António Costa, perante a atual rápida expansão da epidemia de covid-19 em Portugal, “terão de ser adotadas todas as medidas necessárias para contê-la”.
“Em segundo lugar, temos de procurar apoiar o rendimento das famílias, a manutenção do emprego, as empresas e os setores económicos mais atingidos com o encerramento de atividades. É isso que temos procurado fazer e que vamos continuar a fazer”, declarou.
Neste ponto, o primeiro-ministro referiu-se também ao caráter essencial das verbas da União Europeia, designadamente as que chegarão a Portugal no âmbito do fundo de recuperação.
“Temos insistido muito na rápida criação de condições para que o programa de recuperação europeu seja efetivamente disponibilizado aos diferentes Estados-membros para aumentar a capacidade de resposta a esta situação. Ou seja, mais contenção também significa maior apoio”, sustentou.
No final da reunião do Infarmed, o primeiro-ministro também deixou uma série de advertências sobre os riscos resultantes de uma atitude que estará agora a ganhar terreno entre os cidadãos e que aponta para uma desvalorização dos riscos da doença da covid-19, ao contrário do que aconteceu nos meses de março e abril do ano passado.
Nesta matéria, o líder do executivo começou por sustentar que os números que o país está a ter “já são alarmantes”.
“Hoje, vamos ter números acima dos sete mil novos infetados e tem havido mesmo uma razoável habituação a estes números que, se tivessem existido na primeira vaga, seriam considerados absolutamente astronómicos e insustentáveis”, indicou a título de exemplo.
Neste contexto, António Costa invocou os resultados de um estudo recente sobre as perceções existentes em Portugal em relação à covid-19 e em que, “infelizmente, se conclui que a perceção do risco aparenta ter vindo a diminuir entre os cidadãos”.
“Ora, isto é um risco muito grande. Convém não esquecer que não é pelo facto de já existir vacina que todos estão protegidos, porque o período de vacinação vai ser muito longo. Não é pelo facto de conhecermos pessoas que tiveram a doença e não tiveram sintomas que se desvaloriza a gravidade desta doença”, frisou.
Portanto, de acordo com o líder do executivo, “todas as medidas de prevenção, designadamente de higiene e de distanciamento físico, continuam a ser uma arma absolutamente essencial para controlar a dinâmica da pandemia de covid-19”.
“Foi sinalizado que essa menor proteção individual foi um dos fatores que podem explicar este crescimento das infeções. Um crescimento logo quando estamos a viver um período de risco particular, que é um dos mais frios do ano e em que tradicionalmente temos os picos do vírus da gripe. Estão assim criadas as condições naturais para termos um crescimento e um desenvolvimento da pandemia”, alertou.
Perante os jornalistas, entre os riscos que o país enfrenta, António Costa referiu-se ainda às incertezas sobre a propagação da “nova estirpe britânica” do novo coronavírus.
“Recomenda-se toda a cautela. Essa cautela implica confinamento, mas implica também a manutenção de uma elevada disciplina”, acrescentou.
Portugal ultrapassou hoje as 8.000 mortes relacionadas com a covid-19 desde o início da pandemia ao ter registado nas últimas 24 horas mais 155 mortos, o valor diário mais elevado de sempre, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
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