Sociedade Portuguesa de Nefrologia garante que todos os doentes em diálise foram vacinados em três dias

11 de Março 2021

Todos os doentes em diálise e os médicos e enfermeiros que os acompanham foram vacinados em três dias contra a Covid-19, o que contribuiu para uma “descida muito significativa” da mortalidade destes pacientes, segundo a Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

Passados 15 dias após a primeira vacinação, observou-se logo uma “descida muito significativa da mortalidade” dos doentes renais crónicos em diálise, disse à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), que falava a propósito do Dia Mundial do Rim, assinalado hoje.

Aníbal Ferreira reconheceu que esta população foi “extremamente atingida” no que respeita aos internamentos, à morbilidade e à mortalidade associada ao Covid-19, sobretudo, depois do Natal e em janeiro.

“Nas duas últimas semanas de janeiro observou-se 20% de toda a mortalidade por covid-19 nos doentes em hemodiálise e só na última semana de janeiro ultrapassou 10%”, elucidou.

Uma situação que mostra como o país estava numa fase de “crescimento geométrico descontrolado da mortalidade”, o que também se verificava na população em geral.

“Foi a fase de grande rutura dos serviços, mas não nos cansámos de alertar as autoridades competentes e mesmo através dos Media de que estes doentes pelo facto de implicaram fazer hemodiálise, e em muitos casos serem ventilados, tinham dependência de uma dupla prótese, o que lhes colocava grandes dificuldades nos internamentos nas Unidades de Cuidados Intensivos”, sublinhou.

Para Aníbal Ferreira, foi “uma grande vitória” ter sido possível vacinar em três dias “todos os doentes em diálise e todos os médicos e enfermeiros que ainda não estavam vacinados e passado três semanas repetir exatamente o mesmo processo”

Foram mais de 19 mil pessoas vacinadas sem registo de qualquer incidente, disse, realçando que “é das poucas patologias que tem todos os seus doentes vacinados desde a primeira semana de fevereiro”, um processo que resultou da conjugação de esforços de todas as entidades públicas e privadas que tratam estes doentes.

Realçou que foi “claramente assumido” desde o início da pandemia que esta era a população mais vulnerável e a “mais prioritária” dentro dos prioritários por estarem em unidades com outros doentes e não poderem confinar, porque têm de se deslocar para ir fazer o tratamento três vezes por semana, além de serem transportados com outros doentes.

A pandemia também se refletiu no número de transplantes, que segundo Aníbal Ferreira, teve “uma queda enorme” em 2020, estimada em cerca de 50% a nível nacional.

Contudo, houve unidades que conseguiram manter ou até aumentar o número de transplantes como o Hospital Curry Cabral, em Lisboa, cuja unidade esteve sempre a funcionar.

“Estamos agora a começar a recuperar com otimismo este número de transplantes e penso que este ano e, sobretudo, 2022 permitam atingir os níveis habituais que nos colocam no segundo lugar da Europa, logo a seguir a Espanha, e entre primeiros quatro países transplantadores a nível mundial”.

Fernando Macário, diretor médico do Grupo Diaverum, que acompanha mais de 3.200 doentes em 26 clínicas em Portugal, disse, por seu turno, que o transplante renal foi “bastante afetado” em todo o mundo porque os dadores têm de ser sempre acompanhados em Unidades de Cuidados Intensivos e por equipas específicas.

Portugal faz uma média de 500 transplantes renais por ano, o que é “um valor bom”, mas como “o número de doentes que inicia diálise é bastante superior a isso (…) existe sempre espera até terem um dador compatível” que pode, em média, chegar a quatro, cinco anos, salientou o nefrologista.

Em 2019, foram submetidos a transplante renal 514 doentes, 439 com rins provenientes de dador cadáver e 75 de dador vivo (14,6%).

Sobre o tempo que um doente pode viver com um rim transplantado a funcionar, Fernando Macário disse que ronda os 12, 13 anos, em média, para o dador de cadáver e 15 a 20 anos para o dador vivo.

“Mas há doentes transplantados há 30 anos com o rim a funcionar e há outros que perdem o rim ao fim de dois anos”, disse, explicando que quando isto acontece o doente entra em diálise ou volta a ser transplantado.

“Temos doentes que já foram transplantados três vezes e, casos raros, até quatro vezes”, disse, adiantando que um doente renal, sem muitos fatores de risco, pode viver 30, 40, 50 anos com terapêuticas substitutivas entre diálise e transplante.

No Dia Mundial do Rim, o presidente da SPN salientou que é preciso transmitir “uma mensagem de otimismo e de esperança, dizendo que esta é uma área em que estes doentes têm muitos apoios” e que se “pode viver bem com a doença renal”.

A doença renal crónica afeta um em cada dez adultos. Em Portugal, mais de vinte mil doentes estão dependentes de diálise ou transplante.

LUSA/HN

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