Mapa anotado do genoma de coronavírus dá pistas sobre mutações

12 de Maio 2021

Investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, elaboraram um mapa anotado do genoma do coronavírus SARS-CoV-2 que permite identificar mutações genéticas com potencialidade de tornar o vírus mais infeccioso, foi ontem divulgado.

O estudo, ontem publicado na revista científica Nature Communications, foi desenvolvido a partir de técnicas computacionais, com as quais a equipa do MIT comparou o genoma do novo coronavírus, que causa a Covid-19, com o genoma de outros coronavírus similares, como o SARS-CoV (que causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave).

O genoma define-se, em termos latos, por toda a informação genética dada por um conjunto de genes formados por sequências de moléculas de ADN ou ARN e que codificam determinadas proteínas.

Para este trabalho, os investigadores do MIT determinaram o conjunto de genes codificadores de proteínas do SARS-CoV-2 e analisaram a probabilidade de novas mutações (alterações no material genético) ajudarem o novo coronavírus a adaptar-se aos humanos e a tornar-se mais contagioso ou escapar ao sistema imunológico.

A equipa confirmou seis genes codificadores de proteínas no genoma do SARS-CoV-2, além dos cinco comuns para os coronavírus, mas descobriu que outros supostos genes, afinal, não codificam nenhuma proteína.

O estudo analisou também mais de 1.800 mutações genéticas que surgiram no SARS-CoV-2 desde que foi identificado pela primeira vez.

Para cada gene, os cientistas compararam a rapidez com que evoluiu no passado e desde o início da pandemia da Covid-19.

Descobriram, por exemplo, que uma região da proteína do nucleocapsídeo, que envolve e protege o material genético viral, no caso moléculas de ARN, tinha muito mais mutações do que era esperado para os seus padrões de evolução histórica.

Esta região é considerada um alvo para as células B humanas, células do sistema imunitário que produzem anticorpos (glicoproteínas que se ligam e neutralizam um antigénio como um vírus).

De acordo com os autores do estudo, mutações nesta região podem ajudar o SARS-CoV-2 a escapar ao sistema imunitário humano (e consequentemente à eficácia de vacinas, que induzem a produção de anticorpos no organismo).

“A região mais acelerada em todo o genoma do SARS-CoV-2 fica bem no meio da proteína do nucleocapsídeo. Supomos que as variantes que não sofrem mutações naquela região são reconhecidas pelo sistema imunitário humano e eliminadas, enquanto as variantes que acumulam mutações aleatoriamente naquela região são, na verdade, mais capazes de escapar ao sistema imunitário humano e permanecer em circulação”, afirmou, citado em comunicado do MIT, um dos autores da investigação, Manolis Kellis, que trabalha no Laboratório de Ciência Computacional e Inteligência Artificial do instituto.

Segundo a equipa do MIT que conduziu o estudo, os dados recolhidos podem ajudar outros cientistas a centrarem a sua atenção nas mutações genéticas do novo coronavírus que parecem ter efeitos significativos na sua capacidade infecciosa.

O SARS-CoV-2, que causa a doença respiratória Covid-19, foi detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, e disseminou-se rapidamente pelo mundo.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This