Investigadores estudam resposta imunológica para evitar desfechos fatais

22 de Junho 2020

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) vão estudar a resposta do sistema imunológico de doentes com Covid-19 de forma a tentar prever e estratificar o “risco” da infeção, atuar preventivamente e evitar “desfechos fatais”.

“A nossa ideia é tentar perceber a resposta do nosso sistema imunológico quando temos o assalto desta infeção por SARS-CoV-2, ou seja, se existe um estado inflamatório generalizado que leva a um desfecho pior”, afirmou Matilde Monteiro-Soares.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora da FMUP explicou que, nesse sentido, vão ser rastreados cerca de 200 doentes com Covid-19 do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho (CHVNG/E) e familiares e profissionais de saúde que contactaram com os infetados.

“Queremos saber qual o perfil imunológico destes doentes na ótica de tentar prever desfechos ou prever a probabilidade de virem a sofrer alguma complicação”, referiu.

Além da FMUP, o projeto, desenvolvido no âmbito da 2.ª edição da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) RESEARCH 4 COVID-19, conta também com investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e do PORTIC do Instituto Politécnico do Porto (IPP), onde vão ser feitas as análises laboratoriais.

No decorrer do projeto, a equipa de investigadores vai traçar o perfil inflamatório e o perfil imunológico, que além dos anticorpos que os doentes desenvolvem contra o vírus, também assenta em citocinas, isto é, “mensageiros químicos do sistema imune que produzem a inflamação”.

“Embora a inflamação seja um mecanismo de defesa expectável no combate a agentes agressores, às vezes ocorre um desequilíbrio que leva a uma elevação das citocinas, ou seja, a hiperinflamação. Esta tempestade de citocinas pode levar à falência de vários órgãos e conduzir à morte. Portanto, o objetivo é traçar o perfil destes mensageiros”, referiu Ruben Fernandes do PORTIC.

Segundo o investigador, a compreensão do perfil destes mensageiros químicos poderá ajudar a atuar preventivamente e evitar “o desfecho fatal”, sendo que, por essa razão, a equipa vai debruçar-se sob 13 marcadores pró-inflamatórios.

À Lusa, Matilde Monteiro-Soares adiantou que para a comunidade científica, este projeto é “mais uma pequena peça do puzzle”, e que poderá vir a ajudar a “explicar partes do processo” relacionado com a Covid-19.

Com um financiamento de 40 mil euros, este é um dos 55 projetos apoiado pela 2.ª edição da linha RESEARCH 4 COVID-19 que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde e que na sua 1.ª edição apoiou 66 projetos.

Portugal contabiliza pelo menos 1.528 mortos associados à Covid-19 em 38.841 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Chamadas de telemóvel associadas a um maior risco de hipertensão arterial

Advertisement

Falar ao telemóvel durante 30 minutos ou mais por semana está associado a um aumento de 12% do risco de hipertensão arterial em comparação com menos de 30 minutos, de acordo com um estudo publicado no European Heart Journal – Digital Health, uma revista da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC)

Traumas na infância podem provocar insónia nos adultos?

Advertisement

Investigação demonstrou que experiências adversas na infância resultam em formas mais disfuncionais de lidar com a vergonha e aumentam a gravidade dos casos de insónia na idade adulta, embora estas duas variáveis não surjam associadas.

Manuel Delgado: O SNS está a resvalar muito rapidamente para o precipício

Advertisement

Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, Manuel Delgado, ex-Secretário de Estado da Saúde do XXI Governo Constitucional, entre 2015 e 2017 e Professor Auxiliar convidado da ENSP/Universidade Nova de Lisboa para as áreas da Políticas de Saúde e Gestão de Serviços de Saúde, aponta os principais desafios que o SNS enfrenta e os que irá enfrentar no futuro.

Mário Macedo: “Enfermeiros Unidos” por uma Enfermagem com Voz

Advertisement

Mário André Macedo, Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica e principal rosto do Movimento “Enfermeiros unidos”, considera inconcebível o constante afastamento dos enfermeiros dos locais de reflexão, planeamento e decisão em saúde. Pondera vir a candidatar-se a Bastonário da Ordem dos Enfermeiros à qual aponta a responsabilidade de nos últimos anos  ter perdido o seu foco e uma visão estruturada para a profissão.

Entre a idade dos ‘porquês’ e o tempo da revolta: Como lidar com a DII em crianças e jovens?

Advertisement

Viver com uma doença para o resto da vida não é fácil quando o diagnóstico é feito em plena infância ou adolescência. Um cenário que pode ser ainda agravado quando se está perante uma doença com inúmeros estigmas, como a Doença Inflamatória do Intestino. Ter a necessidade de ir, vezes sem conta, à casa de banho pode fazer com que muitas crianças e jovens tenham sentimentos de revolta e vergonha. Atendendo a esta realidade, e de forma a desmistificar algumas destas patologias, a Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino (APDI) promoveu no passado dia 16 de maio uma discussão sobre o tema.

MAIS LIDAS

Share This