Doentes com outras enfermidades podem estar a evitar os hospitais em Moçambique

30 de Junho 2020

O médico e presidente da Associação Moçambicana de Saúde Pública (Amosapu), João Schwalbach, alertou esta terça-feira para o risco de haver doentes que se afastam dos hospitais, devido ao medo de serem infetados pelo novo coronavírus.

“O problema são os indivíduos que, por receio, não querem ou não estão usando os serviços [de saúde]. E isto é mau”, disse João Schwalbach, especialista em saúde pública, em entrevista à Lusa.

Schwalbach é igualmente diretor da Escola de Ciências Médicas do Instituto Superior de Ciência e Tecnologia (ISCTE) de Maputo e foi diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior do país.

O médico afirmou que pequenas enfermidades e de fácil solução podem agravar-se devido à falta de atendimento por causa do receio de procurar cuidados de saúde no hospital.

“Além de patologias diversas que surgem no dia a dia, estamos também a pensar em serviços que são extremamente importantes para o presente e o futuro e que devem ser cabalmente assegurados”, frisou o especialista.

A desconfiança dos cidadãos em relação à segurança do Sistema Nacional de Saúde (SNS) face à Covid-19 pode comprometer as metas nos programas de vacinação, acompanhamento pré e pós-natal da mulher e criança, bem como o controle e acompanhamento das doenças crónicas, acrescentou.

Entre essas doenças, estão diabetes, hipertensão arterial e imunodepressão, referiu João Schwalbach.

“De um modo geral, a Covid-19 não deveria pôr em causa quaisquer outras patologias. Mas, por vezes, a realidade obriga-nos a ter de estabelecer prioridades, seja para garantir recursos, seja para alocar mais disponibilidades a ações mais essenciais”, declarou o presidente da Amosapu.

Nesse sentido, as doenças cardiovasculares, diabetes e as do foro respiratório devem centrar as atenções do Serviço Nacional de Saúde, uma vez que têm maior potencial para uma progressão mais grave, acrescentou.

João Schwalbach disse que a mortalidade em doenças não relacionadas com Covid-19 pode ter aumentado, devido ao medo de receber atendimento médico no hospital.

As pessoas, prosseguiu, devem continuar, sem receio de ir aos centros de saúde e hospitais, porque estes serviços estão preparados e organizados para o atendimento normal com todas as precauções que possam impedir a contaminação de Covid-19.

“O Sistema Nacional de Saúde, tanto quanto sei, organizou-se e continua a organizar-se para que o sistema continue operacional e disponível para a prestação de todos os outros serviços”, frisou.

Moçambique tem 883 casos acumulados de Covid-19, com seis mortes e 229 recuperados.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 502 mil mortos e infetou mais de 10,20 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

ULS de Braga certifica mais 35 profissionais no âmbito do Programa Qualifica AP

A Unidade Local de Saúde de Braga (ULS de Braga) finalizou, esta semana, o processo de certificação de mais 35 profissionais, no âmbito do Programa Qualifica AP, uma iniciativa desenvolvida em parceria com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), através do Centro Qualifica AP.

PCP apresenta medidas para “inverter a degradação” do SNS

O PCP apresentou esta sexta-feira algumas medidas urgentes para “inverter a degradação” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), criticando as “políticas de vários governos” de PS, PSD e CDS, que abriram “caminho para a destruição” daquele serviço público.

DE-SNS mantém silêncio perante ultimato da ministra

Após o Jornal Expresso ter noticiado que Ana Paula Martins deu 60 dias à Direção Executiva do SNS (DE-SNS) para entregar um relatório sobre as mudanças em curso, o HealthNews esclareceu junto do Ministério da Saúde algumas dúvidas sobre o despacho emitido esta semana. A Direção Executiva, para já, não faz comentários.

ULS de Braga celebra protocolo com Fundação Infantil Ronald McDonald

A ULS de Braga e a Fundação Infantil Ronald McDonald assinaram ontem um protocolo de colaboração com o objetivo dar início à oferta de Kits de Acolhimento Hospitalar da Fundação Infantil Ronald McDonald aos pais e acompanhantes de crianças internadas nos serviços do Hospital de Braga.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights