“Apresentei a minha demissão formal. Pedi hoje ao presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo [José Robalo] para deixar as minhas funções enquanto diretora executiva do ACES porque pretendo assumir o meu cargo de professora-coordenadora na UÉ”, disse à agência Lusa a responsável.
Maria Laurência Gemito acrescentou que, uma vez que o conselho clínico do ACES é escolhido pelo diretor executivo que estiver em funções na altura, segundo a legislação, a sua saída do cargo implica que os quatro elementos deste órgão “também saiam”.
“Eles não precisaram de apresentar demissão. Atendendo a que eu saio e que os quatro membros do conselho clínico foram nomeados por mim, automaticamente saem comigo”, precisou a enfermeira.
As saídas destes responsáveis acontecem numa altura em que Reguengos de Monsaraz (Évora), um dos concelhos pertencentes ao ACES do Alentejo Central, regista o maior surto de covid-19 no Alentejo, atualmente com 12 mortos e 141 casos ativos, tendo surgido críticas de sindicatos dos médicos na última semana.
Depois de a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo confirmar a suspensão das férias, até à próxima sexta-feira, de todos os médicos, enfermeiros e outros prestadores de cuidados primários do distrito de Évora devido a este surto da doença, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) exigiu a revogação imediata da medida.
A presidente da sub-região de Évora da Ordem dos Médicos, Augusta Portas Pereira, considerou “abusiva” e sem “suporte legal” a decisão da ARS de destacar médicos deste ACES para o lar de Reguengos de Monsaraz.
Já o Sindicato dos Médicos da Zona Sul denunciou no domingo o que disse ser, por parte da ARS, uma “mobilização forçada de médicos” do ACES do Alentejo Central, do Hospital do Espírito Santo de Évora e da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano para o combate à doença no lar de Reguengos de Monsaraz.
Laurência Gemito escusou-se a abordar o surto de Reguengos de Monsaraz em declarações à Lusa, vincando que a sua demissão se deve “a motivos pessoais e profissionais” ligados ao regresso à UÉ, mais precisamente à Escola de Enfermagem S. João de Deus, onde leciona desde 2001.
“A minha nomeação como professora-coordenadora foi publicada em Diário da República em março e era para ter saído na altura, mas não saí, atendendo à situação que se vivia. Os últimos tempos têm sido desgastantes, com todo o trabalho à volta da covid-19, e com o aproximar do ano letivo preciso de tempo para preparar o meu regresso. Está na altura de sair”, insistiu.
Na sua página na Internet, o Sindicato Independente dos Médicos aludiu hoje a estas demissões e manifestou solidariedade para com os colegas, afirmando esperar que “o presidente da ARS Alentejo por fim revogue as orientações ilegais que emitiu”.
O SIM reproduz também a mensagem enviada por Maria Laurência Gemito e António Matos, presidente do conselho clínico e de saúde, aos profissionais do ACES Alentejo Central, que “tem estado na ribalta nos últimos dias por causa do problema dos idosos de Reguengos de Monsaraz e da desastrosa gestão que a ARS Alentejo está a fazer da questão”.
“Pelo respeito que temos por todos vós, não queremos deixar de vos informar de uma decisão tomada por nós, diretora executiva e conselho clínico e de Saúde do ACES Alentejo Central, na passada sexta-feira, em reunião conjunta e que acabámos de formalizar, apresentando o nosso pedido de demissão superiormente, com efeitos imediatos”, refere a mensagem, citada pelo SIM.
LUSA/HN
0 Comments