“Um acordo é possível e um acordo é necessário”, frisou Bruno Le Maire numa entrevista à BFMTV sobre a cimeira que decorre, pelo quarto dia, em Bruxelas, para aprovar o fundo para permitir o relançamento económico da União Europeia (UE) após a crise provocada pela pandemia de covid-19 e o orçamento europeu para os próximos sete anos.
“O que se joga nas negociações de hoje em Bruxelas é a presença, ou não, da Europa entre as grandes potências mundiais no século XXI”, advertiu. “É o futuro da Europa que está em jogo nas próximas horas em Bruxelas”, repetiu.
Os 27 chefes de Estado e de Governo da UE, reunidos em cimeira e em múltiplos contactos bilaterais desde sexta-feira, aceitaram hoje de madrugada a proposta do presidente do Conselho Europeu para fazer um intervalo e retomar a sessão plenária ao princípio da tarde.
“O Presidente da República [francês, Emmanuel Macron] e a chanceler [alemã, Angela Merkel] não cessam de batalhar para que seja compreendido o desafio destas negociações”, afirmou Le Maire.
Sobre os chamados “países frugais” – Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia -, o ministro disse esperar “que esses países consigam ultrapassar os seus interesses nacionais e compreender que há um interesse geral europeu em ter as suas próprias tecnologias, a sua própria inteligência artificial face à China e aos Estados Unidos”.
“Se não saímos mais fortes desta crise económica juntando forças, tendo estes 500 mil milhões de euros de subvenções europeias que vão permitir às economias relançar-se, ficaremos tão atrasados que não vamos nunca recuperar”, alertou Le Maire.
De acordo com fontes europeias, sobre a mesa estará agora uma proposta do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, o mediador das negociações, que mantém o montante global do Fundo de Recuperação em 750 mil milhões de euros – como propunha a Comissão Europeia –, mas baixa o montante dos subsídios a fundo perdido para 390 mil milhões de euros, em vez dos 500 mil milhões da proposta da Comissão.
A proposta é mais um passo para ir ao encontro dos frugais, com a Holanda à cabeça e aos quais se juntou nestas negociações a Finlândia, que têm bloqueado um acordo.
Segundo fonte francesa conhecedora das negociações, citada pela agência France-Presse (AFP), França e Alemanha “tudo fizeram para levar os mais reticentes [a aceitar] cerca de 400 mil milhões” de euros de subvenções, até então a “linha vermelha” de Paris e Berlim.
Segundo fontes europeias também citadas pela AFP, o jantar de domingo ficou marcado pela tensão entre os líderes, com Emmanuel Macron a criticar a “má vontade” e “a incoerência” dos ‘frugais’.
Segundo essas fontes, o Presidente francês criticou a “má atitude” do chanceler austríaco Sebastian Kurz e comparou a postura negocial do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, à do ex-primeiro-ministro britânico David Cameron nas cimeiras europeias, afirmando que “esse tipo de posicionamento acabou mal”, uma referência à saída do Reino Unido da UE.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, o prolongamento das negociações mostra que “todos querem uma solução por oposição a deixar o problema para mais tarde”.
Aludindo à tensão nas negociações, Maas considerou que ela “também mostra” que “são precisos esforços maciços para tornar a Europa forte outra vez”, depois de uma crise como a do coronavírus, “que deixou todos em choque”.
O plenário do Conselho Europeu, que decorre desde sexta-feira em Bruxelas em busca de um acordo para o relançamento europeu devido a crise da covid-19, foi retomado a 27 hoje de madrugada, mas a sessão foi novamente interrompida até à tarde.
O terceiro dia da cimeira, no domingo, foi o mais longo até ao momento, num total de mais de 20 horas de negociações sem interrupções, mais à margem do que em plenário.
O objetivo de Charles Michel para esta madrugada passou por tentar ‘fechar’ o Fundo de Recuperação, deixando as negociações sobre o Quadro Financeiro Plurianual da União de 2021-2027 para depois de algumas horas de sono, esta tarde.
Os líderes europeus não lograram ainda chegar a um acordo sobre o próximo Quadro Financeiro Plurianual para 2021-2027 e o Fundo de Recuperação, os pilares do plano de relançamento da economia europeia para superar a crise da covid-19.
LUSA/HN
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