Especialista político alerta para maior corrupção no Brasil durante pandemia

5 de Agosto 2020

Um professor universitário brasileiro advertiu esta terça-feira que o Governo federal do Brasil está a deixar “um vácuo” na resposta à pandemia, e que o país poderá assistir à “proliferação da corrupção” e aumento das desigualdades socioeconómicas.

Jorge Alves, professor de Ciências Políticas na Queens College de Nova Iorque, Estados Unidos, disse na terça-feira que a falta de uma estratégia nacional de mitigação da pandemia de Covid-19 deixa um “vácuo por parte do executivo federal” do Brasil, onde são os governos estaduais e munícipios que “estão a intervir e preencher as lacunas”.

O brasileiro foi um dos oradores do debate virtual organizado ontem pela Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade Baruch College.

Para o professor, trata-se de um “custo-benefício” da descentralização do poder em sistemas federais, que causa “muita variação”.

A “instabilidade ao nível federal” é também exacerbada, como nos Estados Unidos, quando os governantes discordam sobre teorias científicas ou conselhos a dar à população, considerou.

Com a crise sanitária e económica a colocar “enorme pressão no setor público” para comprar ou distribuir recursos, Jorge Alves estimou que o Brasil está numa situação “em que a corrupção vai proliferar” tanto a nível micro como macroeconómico.

“Situações de crise são, frequentemente, oportunidades de corrupção”, em que “existem sempre oportunistas”, disse o professor.

Jorge Alves considerou, no entanto, que o Governo federal “tem relativamente melhores políticas de intervenção económica”, exemplificando medidas protetoras de trabalhos temporários, ou empréstimos a pequenas empresas, políticas que “têm um impacto significativo [positivo] no mercado informal”.

“É necessária uma mensagem clara a nível nacional para trabalhar de maneira organizada, unânime, de preferência, em conformidade com a ciência, para ir numa direção certa e unida”, defendeu Jorge Alves.

A pandemia de Covid-19 pode vir a ter “impactos socioeconómicos devastadores”, que ainda não são percetíveis a curto prazo, alertou também o docente.

“Ainda não sentiu o maior impacto”, porque existem rendimentos básicos e ajudas que “servem de escudo e impedem a pobreza de aumentar neste momento”, mas o efeito será diferente a longo prazo, disse.

O professor considerou que a pandemia está a dar ênfase às desigualdades que existem, sendo que nem todos têm as mesmas possibilidades de se proteger e nas periferias das cidades ou nas favelas é difícil praticar o distanciamento social.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 696 mil mortos e infetou mais de 18,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo dados da universidade Johns Hopkins.

O Brasil é o país lusófono mais afetado e um dos mais atingidos no mundo, tendo superado hoje os 2,8 milhões de infetados e totalizado 95.819 mortos.

LUSA/HN

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