O registo de dadores é feito voluntariamente pelos interessados através da página na internet do IPST.
Segundo o instituto, 478 dos 692 inscritos “já tinham sido contactados” por um médico, para efeitos de seleção, sendo que 201 forneceram amostras que foram enviadas para o Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes da Universidade de Lisboa, para serem determinados os níveis de anticorpos neutralizadores do coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença respiratória covid-19.
Um estudo coordenado pelo IMM, que vai ser apresentado na sexta-feira a peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda não revisto por pares, confirmou que anticorpos contra o SARS-CoV-2 permanecem no corpo até cinco meses após a infeção.
Em maio, o Instituto Português do Sangue e da Transplantação anunciou o arranque da recolha de plasma sanguíneo de doentes recuperados para ensaios clínicos. Uma vez que o uso de plasma convalescente é uma terapêutica experimental para a covid-19, a sua eficácia e segurança têm de ser testadas.
O grupo de trabalho para desenvolver a proposta do Programa Nacional de Transfusão de Plasma Convalescente Covid-19 foi constituído em maio, tendo o relatório com a sugestão de medidas – quanto ao “recrutamento de dadores, análise e quantificação de anticorpos neutralizantes virais, ensaio clínico multicêntrico para doentes graves, abordagem posterior para doentes moderados e protocolo para uso compassivo” – sido apresentando à tutela em 17 de junho.
Na resposta à Lusa, o IPST adiantou que, em 21 de julho, foi criado um grupo de peritos que “acompanha tecnicamente a organização e o desenvolvimento do processo de investigação clínica, a realizar nos termos da lei de investigação clínica”.
“Este grupo de trabalho já iniciou a sua atividade, estando em curso, neste momento, a instrução e desenvolvimento de todo o processo para submissão a Comissão de Ética competente”, assinala o instituto, sem estimar uma data para o início de ensaios clínicos com plasma sanguíneo convalescente.
O tratamento com plasma sanguíneo de doentes recuperados, recomendado pela OMS, tem sido aplicado em vários países a outros pacientes, em situações muito específicas e graves, em que as defesas do corpo (sistema imunitário) estão muito debilitadas, mas não é isento de riscos, como a intolerância, segundo especialistas.
“De acordo com a evidência [prova] científica existente até ao momento, esta terapêutica experimental parece ser segura e apresentar sinais de eficácia. Embora promissora, as evidências [provas] acerca da eficácia da terapêutica são ainda limitadas, sendo necessário continuar a reunir informação através de estudos bem fundamentados”, adverte o IPST.
Em agosto, a empresa biotecnológica polaca Biomed anunciou o lançamento da primeira fase de produção de um medicamento experimental contra a covid-19 à base de plasma sanguíneo de mineiros que recuperaram da doença respiratória.
O plasma é um dos componentes do sangue e contém anticorpos, glicoproteínas produzidas por células do sistema imunitário em resposta a um antigénio, como uma bactéria ou um vírus como o SARS-CoV-2, com o qual reage, causando o seu enfraquecimento ou destruição.
A transfusão de anticorpos contra o SARS-CoV-2 de pessoas que recuperaram da infeção parece induzir um efeito antiviral em doentes com covid-19, complementando a sua resposta imunitária.
A pandemia da covid-19 já provocou pelo menos 929.391 mortos e mais de 29,3 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência noticiosa francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.875 pessoas dos 65.021 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A covid-19 é provocada por um novo coronavírus (tipo de vírus) detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China, tendo-se disseminado rapidamente pelo mundo.
Em 11 de março foi declarada pela OMS como uma pandemia.
LUSA/HN
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