“Vemos com muita tristeza e muita apreensão que estamos a fazer menos consultas, menos exames, menos tratamentos, menos rastreios e até parámos de fazer as juntas médicas”, disse à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), que assinala este mês 25 anos.
Duarte Soares lamenta que “o Serviço Nacional de Saúde na população que precisa de cuidados paliativos está absolutamente parado”.
A pandemia “veio fragilizar” os cuidados paliativos que “já eram limitados”, com “uma baixa acessibilidade”, disse, advertindo que se corre “o risco e o grave erro de medir o sucesso do SNS única e exclusivamente pela resposta que está a dar à população covid”.
“Com a pandemia vimos menos recursos humanos e, sobretudo, um maior isolamento das famílias e dos cuidadores, também, em parte porque o SNS se virou quase exclusivamente para a pandemia e porque os próprios doentes ficaram com algum medo de se aproximar das estruturas hospitalares até por medo de contágio”.
Isto significa que o Serviço Nacional de Saúde “está invariavelmente mais longe dos doentes do que estava há seis meses”, lamentando ainda que as oportunidades de financiamento que surgem da pandemia estejam a ser “100% dedicadas” aos serviços de agudos, de medicina intensiva e urgência.
“Se já tínhamos expectativas frustradas relativamente ao investimento em cuidados paliativos ficamos ainda mais expectantes quando o Governo ficou até dia 31 de agosto de apresentar um novo programa com investimento específico para os nossos serviços e em outubro ainda não o apresentou”, criticou Duarte Soares.
A associação viu com “alguma expectativa que o plano de recuperação económica não tenha referido em nenhuma linha os cuidados paliativos” e na segunda-feira tenha havido “mais uma promessa de investimento”, disse, aludindo à proposta do Orçamento do Estado para 2021 que afeta 27.725.000 euros para o reforço da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e da Rede Nacional de Cuidados Paliativos, através do aumento do número de unidades ou camas nas áreas geográficas mais deficitárias.
Na sua ótica, “só sairá desta pandemia um SNS mais forte e reforçado” se for pensado “como um todo em que a população que precisa, que sofre de doenças crónicas e progressivas está claramente na linha da frente para receber esse apoio”.
“Se nós não apoiarmos no terreno com medidas que melhorem na prática a vida dos cuidadores informais vamos perder efetivamente um grande aliado do SNS na prestação de cuidados”, defendeu.
Com a pandemia, a sua situação e a dos doentes agravou-se de “forma dramática”, encontrando-se “numa situação de desespero, de isolamento e de afastamento dos serviços”.
Duarte Soares salientou que os profissionais de cuidados paliativos “têm ferramentas que devem ser valorizadas por decisores” seja para doentes não Covid-19 como para doentes com Covid-19, nomeadamente no “controlo sintomático daquelas pessoas, na tomada de decisões clínicas e na evicção de terapêuticas agressivas na distanásia e até na reaproximação das famílias”.
“Este é um problema tão mais sério quando se pensa nas pessoas que estão isoladas nos lares”. Contudo, a APCP disponibilizou-se para fazer parte das “equipas multidisciplinares de resposta rápida que foram recentemente criadas e não foi incluída nem sequer em grupos de trabalho”.
LUSA/HN
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