“Prevê-se que a assistência alimentar cubra menos de metade das necessidades estimadas pela rede de novembro a março de 2021 e algumas famílias provavelmente permanecerão em crise, fase três do IPC”, lê-se no relatório periódico.
O IPC é uma classificação internacional sobre a fase em que se encontra a segurança alimentar (da sigla inglesa Integrated Food Security Phase Classification) e varia entre um, inexistente, a cinco, fome severa.
A maior parte da assistência será dirigida aos 435 mil deslocados da violência armada em Cabo Delgado, norte do país, no entanto, em setembro, só chegou a cerca de 274 mil e prevê-se que até março chegue, no máximo, a 367 mil mensalmente – mas a rede prevê que o número de deslocados aumente.
Haverá famílias que “provavelmente permanecerão em crise (IPC fase 3)” e outras, que permanecem em locais mais remotos, já poderão estar mesmo numa emergência (IPC fase 4), acrescenta.
Além de Cabo Delgado, a assistência humanitária tenta matar a fome a famílias afetadas pela seca no sul e em recuperação do ciclone Idai no centro – onde há também focos de instabilidade militar.
Segundo a análise periódica à insegurança alimentar em Moçambique, traduzida num mapa onde cada cor corresponde à gravidade da situação, este ano há um novo fator de agravamento: a pandemia de Covid-19 que fez alastrar as zonas de crise alimentar a muitas famílias em zonas urbanas.
Para os próximos meses, há previsão de “chuvas normais” no país que favorecem a produção, mas em Cabo Delgado “as famílias em áreas diretamente afetadas pelo conflito estarão a viajar para áreas seguras em vez de se envolver em atividades agrícolas”.
Famílias com poupança dependerão dos mercados até à nova colheita, a partir de abril, mas “os preços elevados, incluindo do milho em grão e farinha, limitarão o já reduzido poder de compra das famílias”, em especial no norte do país.
Em Cabo Delgado, a insegurança prejudica também “os esforços para conter surtos de cólera e diarreia, já que os profissionais de saúde continuam a fugir, principalmente das áreas afetadas pelo conflito” – situação que aumentará a desnutrição aguda, especialmente entre as crianças, nota o relatório.
As atividades de pesca, que alimentavam quase toda a zona costeira da província, “deverão continuar interrompidas” devido às ações de rebeldes, “limitando o acesso das famílias costeiras a alimentos e rendimento”.
Segundo dados do Programa Alimentar Mundial (PAM), dos 28 milhões de habitantes de Moçambique, 80% não tem acesso a uma alimentação adequada e 42,3% das crianças abaixo dos cinco anos enfrentam problemas de subnutrição.
Mais de 1,6 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar grave, segundo o PAM.
A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.
LUSA/HN
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