Em janeiro deste ano, os números mostravam que em 2019 o setor tinha mantido o seu percurso de crescimento, com o Governo a apontar para receitas turísticas de 18,1 mil milhões de euros, acima dos 16,8 mil milhões de euros do ano anterior, e a Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) a prever a abertura de 51 novos hotéis em 2020.
Mas, a partir de março, com o primeiro caso registado de Covid-19 em Portugal e o início do confinamento, as companhias aéreas praticamente pararam e, sem clientes, os hotéis, alojamentos, restaurantes e outras atividades do setor reduziram a atividade ou encerraram.
Cerca de 80% dos titulares e gestores de alojamento local (AL) registaram uma queda de faturação superior a 75% durante o segundo trimestre de 2020, face ao mesmo período do ano anterior, segundo um estudo do ISCTE, conhecido em novembro.
Já o presidente da AHP, Raul Martins, estimou em outubro que a perda de receitas dos hotéis nacionais em 2020 possa ser superior a 3,6 mil milhões de euros.
Já este mês, a associação revelou que 45% dos inquiridos preveem encerrar até ao final do ano, altura em que está previsto o reforço das medidas de confinamento nos concelhos mais atingidos pela pandemia.
Adicionalmente, os grupos hoteleiros com várias unidades admitem encerrar 56% dos seus estabelecimentos também até ao final do ano.
Quanto aos estabelecimentos que se mantêm abertos, estima-se uma redução de 72% da oferta de unidades de alojamento, ou seja, não estarão a funcionar em plena capacidade.
A restauração, uma atividade que também depende em grande parte do fluxo de turistas nacionais e estrangeiros, foi uma das mais atingidas pelo confinamento e sucessivos estados de emergência, que reduziram as deslocações e forçaram os estabelecimentos a fechar aos fins de semana, altura em que a faturação era maior.
Este mês, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) revelou que quase metade (45%) dos espaços de restauração arrendados não pagaram a renda em novembro e 65% tem três, ou mais, meses de rendas em atraso.
Um inquérito da associação revela também que 40% das empresas de restauração e bebidas pondera avançar para a insolvência, por as receitas não suportarem os encargos do funcionamento da atividade, uma vez que 56% das empresas registaram perdas acima dos 60% na faturação de novembro.
“Como consequência da forte redução de faturação, cerca de 16% das empresas não conseguiram efetuar o pagamento dos salários em novembro e 15% só o fez parcialmente”, precisou a AHRESP, adiantando que 46% das empresas já efetuaram despedimentos desde março, o início da pandemia, e, destas, 30% reduziu entre 25% e 50% o pessoal.
“17% reduziram em mais de 50% os postos de trabalho a seu cargo”, disse a associação, adiantando que cerca de 17% dessas empresas estima não conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do ano.
Mas não são só as previsões internas a apontar para uma redução significativa nesta área. A Comissão Europeia acredita que a atividade turística em Portugal poderá registar uma queda homóloga de até 63% devido ao impacto da pandemia de Covid-19.
Em causa estão as previsões económicas de outono da Comissão Europeia, que dedicam um capítulo ao setor do turismo, um dos mais “importantes para a economia europeia”, mas também dos mais afetados pelo surto do novo coronavírus devido às medidas restritivas adotadas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, pôs Portugal na lista de países que deverão ter perdas no setor do turismo superiores a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo um relatório divulgado em agosto.
“As perdas nas receitas do turismo que ultrapassam os 2% do PIB devem concentrar-se em grandes exportadores de turismo, como a Costa Rica, Egito, Grécia, Marrocos, Nova Zelândia, Portugal, Espanha, Sri Lanka, Tailândia e Turquia”, pode ler-se no relatório.
Já a Organização Mundial do Turismo (OMT), num balanço divulgado na quinta-feira, estima que o turismo mundial tenha uma queda de receitas de 1,1 biliões de dólares (cerca de 900 mil milhões de euros) em 2020, recuando a números de 1990.
A agência de turismo das Nações Unidas prevê que na segunda metade de 2021 haja uma retoma da atividade no setor, mas um regresso aos níveis de 2019 poderá levar entre dois anos e meio a quatro anos.
O setor tem sido alvo de várias medidas de apoio, em Portugal, algumas específicas, incluindo linhas de crédito da responsabilidade do Turismo de Portugal e outras transversais a toda a economia, bem como o ‘lay-off’ simplificado, o apoio à retoma progressiva e outras.
Além disso, os estabelecimentos hoteleiros, de turismo de habitação e ‘resorts’ estão agora autorizados a serem temporariamente usados como escritórios, ‘showrooms’ e centros de dia.
As associações representativas do setor têm apelado para que sejam implementadas mais medidas de apoio e o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, defendeu em novembro a necessidade de novas medidas de apoio às empresas para enfrentarem a continuação da pandemia da Covid-19.
No caso dos restaurantes, várias manifestações têm alertado para a crise gerada pela Covid-19, incluindo movimentos que vão surgindo, como o “Sobreviver A Pão e Água”, de vários empresários que fizeram uma greve de fome, em Lisboa.
Além disso, cerca de uma centena de trabalhadores dos restaurantes, hotéis, cafés, pastelarias e similares manifestaram-se no dia 10 de dezembro, em frente ao Ministério do Trabalho, em Lisboa, para exigir apoios diretos aos trabalhadores e não só às empresas e pela reabertura imediata de estabelecimentos.
A iniciativa foi convocada pela Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht), afeta à CGTP-IN, e juntou pessoas de vários pontos do país, no âmbito de uma ação nacional de luta.
LUSA/HN
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