“Estamos muito felizes por terem começado por aqui. Vai ser um alívio para nós saber que os utentes e as funcionárias foram vacinados. Era uma preocupação grande. Vivemos estes meses todos nesta angústia e nesta incerteza”, avançou, em declarações aos jornalistas, João Gil, presidente da instituição.
O relógio ainda não tinha batido as 10:00 locais (11:00 em Lisboa) quando a primeira utente foi vacinada e menos de uma hora depois já as duas enfermeiras se preparavam para rumar ao próximo lar de idosos, na freguesia vizinha.
No último dia de 2020, a vacina contra a Covid-19 deverá chegar a utentes e funcionários de cerca de 80% dos lares de idosos da ilha Terceira.
Neste lar de uma das freguesias mais rurais da ilha vivem 15 utentes e trabalham 11 funcionários. Quase todos aceitaram ser vacinados.
“Apenas uma funcionária não aceitou por problemas de alergias e uma outra já teve Covid-19. Dos idosos, apenas uma senhora de 105 anos, a família achou melhor não ser vacinada”, revelou João Gil.
O centro social de São Francisco Xavier conseguiu, até agora, evitar a entrada do novo coronavírus na instituição. Apenas uma funcionária adoeceu, mas quando estava de férias.
O presidente da instituição espera, no entanto, que a vacina possa permitir em breve um alívio das medidas mais restritivas, que têm afetado os idosos.
“Estamos mais confiantes de que os idosos estão protegidos e de que em pouco tempo as famílias os possam visitar, com mais assiduidade, o que não tem acontecido, e que até os idosos possam sair, porque eles estão metidos nesta prisão desde março deste ano que está a acabar”, salientou.
Ilda da Conceição, 98 anos, uma das utentes mais velhas da instituição, foi a primeira a ser vacinada.
“Quase nem senti. Não me dói nada”, disse, acrescentando que foram os filhos que tomaram a decisão.
Carlos Xavier, que partilha o nome da instituição, viu nesta vacina um sinal de esperança.
“Foi um bem de Deus. Precisava era que toda a gente lutasse contra esta pandemia”, adiantou, aos microfones dos jornalistas.
Há “muitos anos” que o reumatismo o afeta e o obriga a estar preso a uma cadeira de rodas, mas não se queixa, nem do isolamento que a pandemia impôs.
“Primeiro estranhei, mas estou aqui muito bem. Seja pelo amor de Deus, estou aqui muito bem acompanhado. Não me falta nada”, reiterou.
O início do processo de vacinação na freguesia do Raminho teve um caráter simbólico, segundo o vice-presidente do Governo Regional dos Açores, que tutela a Solidariedade Social, Artur Lima.
“Quis dar o sinal de vir aqui, porque a proteção começa pelos mais pequeninos, pelos mais frágeis e pelos mais debilitados”, explicou.
Enquanto no resto do país, a vacinação começou pelos profissionais de saúde, nos Açores, arrancou nos lares de idosos, em simultâneo nas ilhas Terceira e São Miguel, as duas em que já foi detetada transmissão comunitária do novo coronavírus.
“Os nossos idosos cuidaram muito bem de nós e nós temos a obrigação, o dever ético e moral de os proteger e de os tratar bem. É com esse espírito que o Governo Regional decidiu, em Conselho de Governo, que a prioridade seria dos mais frágeis, dos mais debilitados, que necessitam de proteção”, justificou Artur Lima.
O primeiro lote de vacinas da Pfizer-BioNTech, com 9.750 doses, chegou na quarta-feira à noite aos Açores e vai permitir vacinar 4.875 pessoas.
Segundo o vice-presidente do executivo regional, a maioria dos utentes e funcionários aceitou ser vacinada, ainda que alguns tenham manifestado dúvidas, que foram esclarecidas pelas unidades de saúde de ilha.
“Organizar o consentimento informado de quase três mil pessoas não é fácil, porque vão ser vacinados quer os utentes dos lares, quer os funcionários dos lares para a proteção ser o mais elevada possível”, frisou, ressalvando que o processo “correu excecionalmente bem”.
Artur Lima anunciou ainda que no início de 2021, “o Governo Regional vai implementar um programa de formação de gestão de surtos nos lares e estruturas residenciais para idosos”.
LUSA/HN
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