Rastreios de VIH nos CSP dão grande impulso ao diagnóstico precoce

4 de Janeiro 2021

Propor o rastreio do VIH na consulta dos médicos de família aumenta as taxas de despistagem e melhora a deteção e o diagnóstico precoce, sugere uma investigação realizada pela “Queen […]

Propor o rastreio do VIH na consulta dos médicos de família aumenta as taxas de despistagem e melhora a deteção e o diagnóstico precoce, sugere uma investigação realizada pela “Queen Mary University of London” e pela “UCL School of Life and Medical Sciences”.

As taxas de despistagem do VIH nos Cuidados de Saúde Primários são baixas, apesar dos testes serem recomendados pelos serviços de saúde do Reino Unido e pelas diretrizes internacionais. A falta de rastreios de rotina implica o diagnóstico tardio do VIH, piores resultados clínicos e custos mais elevados dos cuidados e dos tratamentos. Pode também aumentar as hipóteses de um indivíduo transmitir o vírus.

Um artigo publicado na “EClinicalMedicine” analisa o impacto da implementação do rastreio do VIH, incluindo a formação pontual dos profissionais, refletindo as condições “do mundo real” de 13 centros de saúde do leste de Londres.

Compara os resultados com aqueles que foram registados num estudo anterior efetuado pela mesma equipa, no qual os profissionais de 20 unidades dos CSP receberam não só formação inicial como apoio regular. Esse estudo geral, que decorreu entre 2010 e 2012, constatou que esta abordagem aumenta tanto o número de testes de VIH como o número de diagnósticos.

A nova investigação mostra que os resultados alcançados na implementação de uma rotina de rastreio, agora somente com apoio e formação pontual dos profissionais, eram comparáveis aos que foram obtidos no primeiro estudo: aumento das taxas de despistagem do VIH, que resultaram em mais  diagnósticos e mais precoces. O aumento de novos diagnósticos em ambos os grupos foi superior ao de um grupo comparativo de dez unidades de saúde que não receberam qualquer formação ou apoio.

A testagem do VIH foi 55% superior nas unidades que passaram a oferecer a possibilidade da realização dos rastreios, as taxas de diagnóstico foram 106% mais elevadas e a contagem de CD4 no momento do diagnóstico foi 35 % superior.

Os investigadores salientam que “a maioria dos novos diagnósticos ocorreram em pessoas pertencentes a grupos com maior risco de diagnóstico tardio: heterossexuais, adultos negros africanos e das Caraíbas. Ambos os grupos estão sub-representados nas consultas de saúde sexual, onde lhes seriam oferecidos testes de VIH, o que pode significar que são diagnosticados tardiamente”.

O Dr. Werner Leber, médico de família e professor na “Queen Mary University of London”, afirmou que a “fase de implementação” confirmou que os CSP poderiam integrar com êxito o rastreio do VIH, particularmente de novos pacientes, nas consultas de rotina.

“Durante o nosso estudo de investigação inicial, descobrimos que a oferta de testes de VIH a novos pacientes detetou casos de VIH anteriormente não diagnosticados. Os dados recolhidos fora do ambiente dos ensaios clínicos, e agora publicados, mostram que a intervenção é eficaz nas consultas de rotina, no âmbito das práticas modernas dos médicos dos CSP”.

O estudo foi financiado pelo “National Institute for Health Research” através do “NIHR Applied Research Collaboration (ARC) North Thames”.

A Dra. Jasmina Panovska-Griffiths, investigadora da UCL, assinalou: “O nosso estudo mostra que a implementação do rastreio do VIH pelos enfermeiros dos CSP, pode ser realizada de forma eficaz, conduzindo a um aumento dos testes de VIH, que podem estar associados a um maior e mais precoce diagnóstico. Também parece que a maioria dos novos diagnósticos ocorre em pessoas menos propensas para frequentar consultas de saúde sexual, onde lhes seriam oferecidos testes de VIH”.

O Prof Chris Griffiths, diretor do Instituto de Ciências da Saúde da População na “Queen Mary”, afirmou: “Os médicos de família, em Londres e em áreas urbanas com maior prevalência de VIH, no Reino Unido e noutros países, precisam urgentemente de implementar o rastreio do VIH nas consultas de rotina. O rastreio é uma ferramenta chave que pode ajudar a realizar o objetivo de erradicar o VIH”.

Rosalind Raine, professora da UCL e diretora do NIHR ARC North Thames, afirmou: “Ficámos muito satisfeitos por podermos financiar esta investigação, que tem implicações importantes para as pessoas, populações e sistemas de cuidados de saúde a nível internacional. É provável que as pessoas, particularmente aquelas que pertencem a populações em risco, beneficiem de um maior acesso aos testes no ambiente familiar dos cuidados de saúde primários, com ligação a tratamentos e cuidados imediatos para aqueles que apresentam resultados positivos nos testes”.

Mais informação em:

Evaluating the impact of post-trial implementation of post-trial implementation of RHIVA nurse-led HIV screening on HIV testing, diagnosis and earlier diagnosis in general practice in London, UK Leber. W, Panovska-Griffiths J. et al DOI: 10.1016/j.eclinm.2019.11.022

NR/HN/Adelaide Oliveira

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