Equipa terapêutica faz acompanhamento domiciliário a pessoas com doença mental grave

26 de Janeiro 2021

Pessoas com doença mental grave de oito concelhos da Lezíria, no distrito de Santarém, estão a ter acompanhamento domiciliário por uma equipa da Associação de Familiares e Amigos do Doente Psicótico (FARPA), no âmbito do projeto InclusivaMente.

A diretora técnica da FARPA e coordenadora do projeto, Liliana Silva, disse hoje à Lusa que, no âmbito de uma candidatura ao Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE) – Parcerias para o Impacto, a associação iniciou, em novembro de 2020, o acompanhamento domiciliário a pessoas que são referenciadas pelos municípios ou que tomam a iniciativa, elas ou familiares, de contactar a associação, solicitando esta intervenção.

O projeto, que vai durar até dezembro de 2022, está a decorrer em oito concelhos que têm ligação direta com o departamento de psiquiatria do Hospital Distrital de Santarém – Almeirim, Alpiarça, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Rio Maior, Salvaterra de Magos e Santarém -, sendo objetivo, numa segunda fase, abranger os restantes municípios que integram a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), ou seja, Azambuja (distrito de Lisboa), Benavente e Golegã.

“As pessoas tinham esta necessidade”, disse Liliana Silva à Lusa, salientando que alguns dos concelhos já excederam a capacidade de resposta prevista – oito pessoas em cada um, que podem ir rodando à medida que se registam melhorias ou abandono.

Contudo, a preocupação é tentar “encaixar toda a gente, para tentar minimizar o impacto que esta pandemia [da covid-19] ainda trouxe de acrescido a estas questões já tão difíceis e delicadas e que nem sempre são facilmente compreendidas”, disse, sublinhando a importância da articulação entre os vários serviços para o sucesso da intervenção.

O grande objetivo do projeto, que prioriza pessoas (maiores de 18 anos) com “patologias mais disruptivas e desorganizadoras” (esquizofrenia, doença bipolar, depressão major), é a diminuição de internamentos e reinternamentos.

“Cada internamento que se impede significa que a pessoa recupera no seu espaço, tem menos custos para o Serviço Nacional de Saúde, menos impactos na vida daquela pessoa e na sua saúde de uma forma geral”, salientou.

A equipa que se desloca ao domicílio usa estratégias para a reabilitação cognitiva, ao mesmo tempo que aborda questões da gestão da vida pessoal, em articulação com serviços das áreas da saúde, da segurança social, das finanças e das autarquias, disse.

Deslocando-se numa viatura identificada, os elementos da equipa seguem todas as recomendações da Direção-Geral da Saúde, usando equipamentos de proteção individual em cada deslocação e recorrendo, sempre que possível, a espaços exteriores para interagir com as pessoas.

Graças ao apoio concedido ao abrigo dos fundos comunitários e pelos municípios envolvidos, o projeto InclusivaMente vai, além da intervenção domiciliária, promover ações de literacia em saúde mental nas escolas (vertente que não avançou ainda devido aos confinamentos impostos pela pandemia da covid-19), num esforço de sensibilização da comunidade contra o estigma a que são votadas as pessoas com doença mental.

Por outro lado, vai dinamizar grupos de autoajuda e realizar ‘workshops’, os primeiros dos quais irão decorrer ‘online’ neste primeiro trimestre do ano, tendo por tema de fundo a pandemia, um sobre luto e perdas e o segundo sobre o que se pode tirar de positivo deste período, sendo a participação gratuita e aberta a quem queira assistir.

“A ideia é sensibilizar a comunidade para estas questões, para a possibilidade de estas pessoas terem uma vida perfeitamente enquadrada na sociedade, integrarem ou projetos de voluntariado ou de trabalho, voltarem aos estudos e serem uma mais-valia na comunidade onde estão. Desmistificar um bocadinho estas questões ligadas às doenças mentais”, disse.

“A FARPA mantém-se há 20 anos como a única instituição em todo o distrito de Santarém especificamente a trabalhar na reabilitação de pessoas com doença mental grave”, salientou, apontando o objetivo de pôr em prática a rede de cuidados continuados em saúde mental, nomeadamente com a existência de uma estrutura.

Com o seu fórum ocupacional instalado na capital do distrito, a associação sente necessidade de “chegar a mais pessoas”, dada a distância que separa a sua sede dos locais onde estão aqueles que precisam de apoio.

Em estudo com a direção distrital da Segurança Social está a possibilidade de a FARPA integrar a rede de cuidados continuados e vir a ser criada uma residência, “nem que seja para descanso dos cuidadores”, e que é “uma lacuna imensa no distrito”.

Fundada por profissionais do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santarém e familiares de pessoas com doença mental grave, a FARPA foi constituída em 1998, tendo o seu fórum ocupacional a funcionar numa quinta cedida provisoriamente por um particular, na expectativa da construção de um espaço que permitirá alargar a sua capacidade e que está em fase de elaboração de projeto.

LUSA/HN

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