Em entrevista à agência Lusa na ilha do Sal, onde é também guia turístico numa empresa privada, o presidente da Associação de Guias e Animadores de Turismo de Cabo Verde, Ulissandro Reis, recorda que antes da pandemia de covid-19 o setor dava trabalho para todos. Uma parte até deixava as outras ilhas com destino à mais turística de Cabo Verde.
Contudo, desde final de março de 2020 que tudo mudou no Sal, ilha que recebia até então, no aeroporto internacional local, mais de um milhão de viajantes por ano.
“De 300, sete. No máximo sete. Porque não temos turistas”, atira, sem rodeios, recordando que são ainda muito reduzidos os grupos de turistas que começaram a chegar ao Sal desde meados de dezembro, com o regresso das ligações aéreas internacionais, interrompidas desde 19 de março.
Com o cenário atual, afirma Ulissandro Reis, “não há trabalho para toda a gente” no Sal.
“Podemos estar a falar de cem [guias] que ficaram, mas que não têm trabalho nem pode fazer outra coisa, porque não tem”, lamenta.
Antes da pandemia, recorda, eram os guias turísticos e os operadores locais que asseguravam a “dinamização da ilha”, com dezenas de carros a percorreram diariamente toda a ilha com os turistas, percursos de visitas, a “lidarem com a população e a conhecerem a cultura”. Mas, de um momento para o outro, todos ficaram sem ocupação.
“Nos primeiros meses tínhamos sempre a esperança: no próximo mês pode mudar. Então o pessoal ficou na ilha”, recorda, sobre o confinamento geral e encerramento das fronteiras em Cabo Verde, em março.
Contudo, mais de dez meses depois o cenário pouco mudou e, sem trabalho, grande parte destes guias, responsáveis por levar os turistas, em grupos organizados e afastados de locais mais perigosos, aos pontos de visita obrigatória em toda a ilha, regressaram aos locais de origem.
“A situação é desoladora e começaram a ir para as suas ilhas. É uma ilha cara e sem trabalho não se conseguem manter cá”, explica Ulissandro Reis.
Como exemplo, o presidente da associação de guias turísticos de Cabo Verde aponta a passagem de ano no Sal, que anualmente movimentava cerca de 12.000 turistas.
“Este ano só tivemos 500”, desabafa.
Num cenário de pandemia ainda por controlar na Europa, principal origem dos turistas para Cabo Verde, Ulissandro Reis diz acreditar que 2021 “ainda pode dar alguma coisa” para o turismo do Sal, mas “vai ser muito fraco”.
“Em outubro, se a operação inverno se iniciar, aí sim teremos um renascer do turismo na ilha do Sal”, prevê.
Para agravar a situação destes trabalhadores, o representante do setor recorda que “a maioria” são microempresários e que por isso só foram abrangidos pela fase inicial do regime de ‘lay-off’ aprovado pelo Governo em abril.
“Temos situações críticas. São dívidas, contas por pagar, muita gente está a vender as viaturas que tinha para trabalhar”, assume.
Apela por isso a um “plano de retoma” nacional que passe, por exemplo, pela isenção de impostos para estes trabalhadores, com injeção de capital nas respetivas microempresas. Ou com a “ajuda” do Estado à renovação da frota, através de isenção de impostos na importação de viaturas.
Em paralelo, garante que estes profissionais não desistem e aproveitaram os últimos meses para ações de formação, sobretudo em proteção sanitária, para lidar com a covid-19, e assim garantir condições de segurança para a retoma do turismo no país.
LUSA/HN
0 Comments