A investigação liderada pela University Health Network (UHN), em Toronto, hoje publicada no boletim científico Lancet Respiratory Medicine, chegou à conclusão de que o tratamento com o antiviral peginterferon-lambda permitiu às pessoas infetadas eliminarem o coronavírus SARS-CoV-2 mais rapidamente, apresentando melhores resultados nos doentes que tinham cargas virais mais elevadas.
Os casos com maior carga viral estão associados a uma situação potencial de doença mais grave e a um maior risco de transmissão do SARS-CoV-2 a outras pessoas.
De acordo com o estudo, os pacientes que receberam uma única injeção do peginterferon-lambda, desenvolvido para o tratamento da hepatite viral, apresentaram quatro vezes mais hipóteses de curar a infeção num período de apenas sete dias, quando comparados com o grupo que recebeu um placebo.
Os investigadores defendem que este tratamento antiviral pode assumir uma função importante para tratar doentes infetados e, ao mesmo tempo, ajudar a conter a disseminação do SARS-CoV-2, numa altura em que são ainda escassas as vacinas contra a covid-19 em todo o mundo.
“Este tratamento apresenta um grande potencial terapêutico, especialmente neste momento, em que várias variantes agressivas do coronavírus estão a espalhar-se pelo mundo, sendo menos sensíveis às vacinas e ao tratamento com anticorpos”, salientou Jordan Feld, codiretor do centro de investigação hepática Schwartz Reisman, da UHN.
Segundo o investigador, o grupo de pessoas que foi tratado com este antiviral mostrou uma “tendência de melhoria mais rápida dos sintomas respiratórios”.
“Se pudermos diminuir o nível de carga do vírus rapidamente, as pessoas têm menos probabilidade de espalhar a infeção a outras e até podemos ser capazes de encurtar o tempo necessário para o auto-isolamento”, salientou Jordan Feld.
A ‘interferon-lambda’ é uma proteína produzida pelo organismo humano, como resposta a infeções virais, que apresenta a capacidade de ativar várias vias celulares para eliminar os vírus invasores.
O novo coronavírus impede que o corpo produza esta proteína, evitando, desta forma, que seja controlado pelo sistema imunológico da pessoa infetada.
Na prática, o tratamento com ‘interferon-lambda’ ativou as mesmas vias de eliminação de vírus nas células, concluiu o estudo da UHN.
O antiviral peginterferon-lambda usado neste estudo é uma versão de ação prolongada de um medicamento desenvolvido pela Eiger BioPharmaceuticals, que pode ser administrado como uma única injeção sob a pele, num procedimento semelhança à insulina.
Este estudo realizado em Toronto, entre maio e novembro de 2020, envolveu um universo de 60 participantes, 30 dos quais receberam o antiviral, enquanto aos restantes foi administrado um placebo.
Segundo a UHN, face aos resultados obtidos, está a ser planeada a fase 3 desta investigação que deverá arrancar em breve.
Paralelamente, estão a decorrer outras investigações sobre a utilização do peginterferon-lambda em pacientes hospitalizados e em locais onde pode ser usado para prevenir infeções, a cargo das universidades de Toronto, Harvard e Johns Hopkins.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 2.285.334 mortos resultantes de mais de 104,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 13.740 pessoas dos 755.774 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
LUSA/HN
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