Pandemia enviou quase metade da população ativa da UE para teletrabalho

8 de Março 2021

A pandemia de Covid-19 fez com que quase metade da população ativa da União Europeia (UE) estivesse em teletrabalho, total ou parcial, em julho, contra cerca de 10% antes da crise pandémica, segundo o Eurofound.

Esta nova realidade laboral, acelerada pela pandemia, vai estar em discussão na terça-feira numa conferência de alto nível sobre o futuro do trabalho intitulada “Trabalho Remoto: Desafios, Riscos e Oportunidades” realizada, por via remota, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE.

Os resultados mais recentes de uma pesquisa efetuada pelo Eurofound (Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho), com base em cerca de 90 mil inquéritos ‘online’ realizados em julho, mostram que quase metade (48%) dos inquiridos estava em trabalho remoto, pelo menos uma parte do tempo.

Destes, mais de um terço (34%) trabalhavam exclusivamente em casa, ou seja, mais de um em cada três trabalhadores estava nesta situação.

Os dados contrastam com os verificados antes da pandemia, em 2018, quando “menos de um em vinte trabalhadores” relataram trabalhar de forma remota regularmente e “menos de um em cada dez ocasionalmente”, lê-se no estudo, intitulado “Living, Working and Covid-19”, citando dados da Comissão Europeia.

A proporção de pessoas a trabalhar exclusivamente em casa varia, contudo, de forma significativa entre os Estados-membros.

A Bélgica é o país onde a percentagem de teletrabalhadores é mais elevada (superior a 50%), seguindo-se Irlanda, Itália, Espanha e França, com níveis acima dos 40%.

Portugal surge em sexto lugar, com quase 40% de teletrabalhadores em casa, seguido logo de perto pela Dinamarca.

Com taxas inferiores à da média europeia estão países como a Grécia, Finlândia ou Alemanha, com percentagens ligeiramente superiores a 20%, enquanto na Croácia, Polónia, Eslováquia, Bulgária e Hungria apenas cerca de um quinto dos trabalhadores estava em casa.

Os dados do Eurofound mostram ainda que do total de inquiridos que estavam a trabalhar em casa, a maioria (74%) tinha qualificação superior.

Por atividade, o setor dos serviços foi o que registou maior incidência de teletrabalhadores, enquanto os setores com menores níveis foram os da ‘linha da frente’, como a saúde, transportes e agricultura bem como os afetados diretamente pelas restrições, como é o caso do comércio e alojamento.

Daqueles que trabalharam em casa durante a crise pandémica, mais de metade (54%) já o tinha feito anteriormente, enquanto 46% eram novos teletrabalhadores.

Uma das questões em discussão sobre o teletrabalho é a falta de limites que pode existir entre o trabalho e a vida não profissional e, de acordo com a pesquisa, um quinto dos teletrabalhadores (24%) relataram trabalhar durante o seu tempo livre, enquanto apenas 6% dos que trabalhavam nas instalações da empresa ou locais fora de casa o admitiram.

No entanto, a maioria dos teletrabalhadores disse que deseja continuar a trabalhar a partir de casa após a crise pandémica, pelo menos às vezes.

“Parece muito provável que a experiência de trabalhar em casa durante a crise Covid-19 levará a um crescimento do teletrabalho quando a crise diminuir”, conclui o Eurofound, indicando que 78% dos trabalhadores inquiridos em julho manifestaram preferência por trabalhar em casa, pelo menos ocasionalmente, mesmo se não houvesse a pandemia e as restrições impostas pelos governos.

A principal preferência manifestada foi a possibilidade de estar em teletrabalho várias vezes por semana (32%), com apenas 13% a indicar que gostariam de teletrabalhar diariamente.

Para o economista e professor da Universidade do Minho João Cerejeira, o teletrabalho “veio para ficar, nomeadamente em modalidades mais híbridas”.

“Quando se resolver a pandemia, o recurso ao teletrabalho, que agora acelerou, é capaz de cair, mas não há dúvida de que vai ficar a um nível muito maior do que era a tendência anterior”, vinca o economista à Lusa.

João Cerejeira considera que há mais vantagens do que desvantagens tanto para o trabalhador como para as empresas, mas é preciso regular o regime laboral.

“A legislação é muito vaga e tem de ficar definido quem é que paga o quê, a questão da conciliação da vida familiar e laboral, que horário cumprir, a forma de monitorizar o trabalho ou a avaliação”, defende João Cerejeira.

Em Portugal, a discussão sobre a regulação do teletrabalho deverá arrancar após a conclusão do Livro Verde sobre o futuro do trabalho, que deveria estar concluído até final de 2020 mas que ainda não é conhecido.

Na terça-feira, o tema estará em debate na conferência organizada pela presidência portuguesa da UE sobre o futuro do trabalho, dinamizada pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e pelo secretário de Estado Adjunto do Trabalho e da Formação Profissional, Miguel Cabrita.

Na conferência serão analisadas as mudanças no mercado de trabalho nos últimos anos, nomeadamente as novas formas de trabalho e de organização dos tempos de trabalho, a conciliação entre a vida profissional e pessoal e o direito a desligar.

A sessão de abertura vai contar com a participação do primeiro-ministro, António Costa, bem como do diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, e do comissário europeu para o emprego e direitos sociais, Nicolas Schmit.

LUSA/HN

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