O regresso da maior parte das regiões do Chile a uma quarentena nos finais de semana e de algumas regiões ao confinamento total começou a partir das 05:00 de hoje (08:00 em Lisboa), demonstrando que a vacinação parcial, mesmo que eficaz, não é suficiente para evitar picos de contágio.
A maior parte das vacinas aplicadas ainda não geraram suficientes anticorpos e o número estável de mortes diárias, somado à sensação de segurança de um processo de vacinação elogiado no mundo, levou a um relaxamento das medidas de prevenção.
“Há mais casos, mas são menos graves. Isso faz com que as pessoas se preocupem menos. Outro fator importante é que as pessoas vacinam-se e relaxam. Os filhos veem que os pais estão vacinados e relaxam. Os netos veem que os avós já se vacinaram e começam a sair mais”, explica à Lusa o sociólogo e analista político chileno, Patricio Navia.
Esse excesso de otimismo combina-se com uma permissão especial de férias, usada por mais de 4 milhões de pessoas, correspondente a 20% da população, durante esta época de verão austral.
A circulação impulsionou o contágio afetando, sobretudo, as cidades costeiras que recebem turistas como Valparaíso, La Serena e Coquimbo, que voltam ao confinamento total.
Desde o final de fevereiro, enquanto o país vacinava a toda velocidade, o número de contágios, paralelamente, voltava a patamares preocupantes.
Nas últimas 24 horas, foram registados 5.983 novos contágios, o número mais elevado desde 19 junho de 2020, quando a curva de contágios da primeira vaga estava no auge.
O total de casos é agora de 879.485 e com os 89 óbitos confirmados nas últimas 24 horas, o total de mortes passou para 21.541.
Se forem adicionados os casos suspeitos, a cifra ultrapassa os 28 mil.
O aumento dos contágios leva a que 94% das unidades de cuidados intensivos estejam ocupadas, acendendo o alerta de colapso.
No total, 43 comunas no Chile, onde vivem 90% da população do país, entram hoje em quarentena nos finais de semana por tempo indeterminado. Além disso, continua a vigorar no país o recolher obrigatório diário entre as 22:00 horas e as 05:00.
Dos 19 milhões de habitantes do Chile, 17 milhões entram nessa nova quarentena, incluindo os sete milhões de habitantes da região metropolitana de Santiago.
Desde o começo da pandemia, o Presidente Sebastián Piñera optou por um sistema de quarentenas seletivas por bairros ou por cidades.
“O governo chileno procurou sempre combater a pandemia ao menor custo económico possível. Essa estratégia explica tudo o que Piñera fez, incluindo a bem-sucedida campanha de vacinação, mas também os confinamentos seletivos para produzir o menos impacto negativo possível na economia”, explica Patricio Navia, professor da Universidade de Diego Portales, no Chile, e da New York University, nos Estados Unidos.
Até agora, o Chile já vacinou 4,774 milhões de pessoas, equivalentes a 24,2% da população total.
Até a próxima segunda-feira, os vacinados devem chegar aos 5 milhões, atingindo, com duas semanas de antecedência, a meta de vacinar todos os grupos de risco até ao final de março.
Estava previsto que as pessoas que não pertencem a nenhum grupo de risco começariam a ser vacinadas a partir de 01 de abril, mas com o aumento da administração das vacinas, a data deve ser antecipada.
Mantendo-se este ritmo, a meta de vacinar 15 milhões de pessoas no primeiro semestre, equivalente a 80% da população, deve ser atingida antes, fazendo do Chile o primeiro país da América Latina a atingir a chamada imunidade de grupo.
O Chile já recebeu quase 11 milhões de doses, sendo dez milhões da chinesa Sinovac e o restante da Pfizer. O país já garantiu 35 milhões de doses, incluindo outros laboratórios, suficiente para vacinar 90% da população.
O Presidente Sebastián Piñera quer deixar o poder dentro de um ano como o líder que venceu a pandemia e que vacinou toda a população, mas, também paradoxalmente, a sua popularidade ronda apenas os 23%.
“A visão que as pessoas têm do Presidente Sebastián Piñera não muda. Os chilenos já queriam divorciar-se de Piñera, mas veio a pandemia. É como numa família em que o casal quer o divórcio, mas chega a notícia de que o filho tem uma doença grave. Adiam o divórcio, mas, uma vez superada a doença, provavelmente chegará o divórcio”, acredita o sociólogo e analista Patricio Navia.
Lusa/HN
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