Diretora do ECDC admite luta “difícil” contra a desinformação sobre vacinas

25 de Março 2021

A diretora do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC), Andrea Ammon, reconheceu esta quinta-feira as dificuldades do organismo no combate à desinformação sobre as vacinas contra a Covid-19 e apelou ao alinhamento das orientações clínicas a nível internacional.

“Todos estamos cientes de que esta é uma tarefa muito difícil. É muito difícil porque correr atrás da desinformação significa perder a posição, porque chegamos sempre demasiado tarde”, afirmou a diretora do ECDC, em declarações prestadas na conferência “Reforçar o papel da UE na Saúde Global”, realizada no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia (UE).

Andrea Ammon preconizou uma “abordagem mais proativa” a este fenómeno através do estabelecimento de “fontes confiáveis” de informação para as pessoas, sublinhando que o ECDC tem tentado seguir este caminho na pandemia de Covid-19, nomeadamente desde que as vacinas passaram a estar disponíveis para administração a nível europeu, no sentido de contrariar a hesitação em relação ao processo de vacinação.

“Temos feito isso através do Portal Europeu de Informação sobre Vacinação, que é uma iniciativa da UE, onde o ECDC e a EMA [Agência Europeia do Medicamento] estão conjuntamente a divulgar informação de confiança. Um aspeto a que aspiramos com outros centros de controlo de doenças é o alinhamento mais próximo possível das orientações, porque estas diferenças são aproveitadas para passar a ideia de que não são confiáveis”, disse.

A diretora do ECDC lembrou o trabalho da instituição desde a sua criação, em 2004, no desenvolvimento da cooperação europeia e na proteção dos cidadãos e assinalou que a Covid-19 “mostrou a importância da colaboração para responder a novas ameaças” de saúde.

“A nossa agência tem ajudado a Comissão Europeia e os estados-membros ao fornecer o ‘background’ científico necessário para ajudá-los a tomarem decisões complexas nesta crise”, observou, reforçando a necessidade de olhar além das fronteiras europeias, como está previsto na estratégia do ECDC até 2027: “Um dos objetivos é aumentar a segurança na saúde dentro da UE, através de colaboração internacional em políticas sobre doenças infecciosas, fortalecendo a coordenação entre o ECDC e parceiros de países fora da UE”.

Simultaneamente, Andrea Ammon realçou o “claro potencial” da instituição que lidera “para ajudar nas crises europeias e mundiais de forma mais efetiva” e sinalizou o seu apoio à proposta de reformulação do mandato do ECDC, sobretudo no reforço da sua capacidade para “usar a cooperação internacional” na preparação para ameaças de saúde à segurança global.

“Uma doença infecciosa pode dar a volta ao mundo em 24 a 48 horas. O que acontece em Wuhan ou no Brasil, está também a acontecer na nossa casa. Estamos ainda mais interligados do que pensamos e soluções globais são necessárias”, considerou, sem deixar de mencionar o “papel crucial” do ECDC, ao lado da Organização Mundial de Saúde e de outras entidades.

Andrea Ammon deixou ainda um aviso para o futuro. “O fortalecimento e a manutenção da capacidade de resposta nacional e internacionalmente é um investimento e não um custo. Já todos vimos o que custa se não se investir. Nenhum país pode lidar sozinho com uma crise como esta, nem mesmo uma região”, concluiu.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.735.411 mortos no mundo, resultantes de mais de 124,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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