Nos cartazes que ergueram, a frase que mais se destacava era “Bolsonaro Genocida”.
Uma iniciativa pacífica, mas ainda assim marcada por trocas de palavras acesas entre dois elementos pró-Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que passaram pelo local, e os manifestantes.
Num dos casos, a polícia interveio para acalmar os ânimos, sobretudo do homem que defendia o Presidente enquanto filmava o protesto.
Noutro caso, um motociclista gritou ao longe “viva o Presidente”.
Cem cruzes brancas, afixadas no relvado da Alameda D. Afonso Henriques, simbolizaram a homenagem que os organizadores da iniciativa quiseram prestar às mais de 400 mil vítimas mortais da pandemia de Covid-19, mas também às 25 pessoas que morreram na manhã de quinta-feira, na sequência de uma violenta ação policial contra um grupo criminoso na comunidade do Jacarezinho, na cidade brasileira do Rio de Janeiro.
Depois dos Estados Unidos e da Índia, o Brasil é o segundo país no mundo com mais casos positivos de Covid-19 em números absolutos e contabiliza quase 417 mil vítimas mortais (416.949).
“Infelizmente todos os dias há novidades más no Brasil, ontem [quarta-feira] foi a volta dos massacres. Não é uma coisa que não tenha ocorrido noutros governos”, disse à Lusa Carlos Vianna, membro da Casa do Brasil em Lisboa, uma das entidades que promoveu a iniciativa de ontem na Alameda.
Mas para Carlos Vianna, “infelizmente”, também “há um apoio social no Brasil à ideia de matar indiscriminadamente” e isto porque o país está dividido “social, racialmente, ideologicamente e pretos e pobres são o pior da sociedade para uma certa classe, para uma parcela considerável da população”.
O ativista defendeu que se não houver oposição “fora e dentro do Brasil” a situação vai continuar e considerou que a gestão de Bolsonaro “é um desastre evidente”.
Vianna deixou um apelo ao Governo português para que “não ratifique o acordo União Europeia-Mercosul com Bolsonaro no poder, porque isto significará praticamente a única vitória política ou diplomática do atual Governo brasileiro”.
Ontem, obedecendo às regras para evitar a propagação da Covid-19, a iniciativa simbolizou “um velório” por todas as vítimas de uma política que tem conduzido à morte de milhares de pessoas, considerou o representante.
O protesto decorreu também nas cidades de Aveiro e do Porto.
Em Aveiro foi promovida pelo Coletivo Alvorada Aveiro, em Lisboa foi organizada pelo Coletivo Andorinha, Frente Democrática Brasileira e Casa do Brasil de Lisboa, e no Porto, pela Solidariedade Brasileira.
“Além da solidariedade a todas as famílias que perderam entes queridos e ao povo brasileiro, a ação teve por objetivo denunciar as ações desastrosas do governo de Jair Bolsonaro na gestão da pandemia de Covid-19 e o caráter genocida do seu projeto político”, afirmam os organizadores da ação de Lisboa.
A multiplicação de contágios ocorre “na esteira do negacionismo incentivado pelo governo federal, que teve como estratégia promover o aumento do número de contaminações para que o país chegasse a uma suposta ‘imunidade de rebanho’, opção que já havia sido considerada ineficiente por autoridades de saúde mundiais”, referem.
Além de negar vacinas, o governo de Bolsonaro deve ser responsabilizado pela falta de equipamentos nas unidades de saúde, como máscaras, equipamentos de proteção individual, respiradores, kits de intubação e oxigénio, sublinham.
As denúncias de genocídio também dizem respeito às ações e omissões do governo federal sobre os povos indígenas durante a pandemia, referem.
LUSA/HN
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