No dia 27 de maio, o Governo autorizou a realização da despesa pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS) com a aquisição da vacina contra a gripe para a época 2021/2022.
Para Filipe Froes, “a reserva das vacinas da gripe tem que ser feita com a máxima antecedência de maneira a garantir um número de vacinas que, cada vez mais, é escasso perante as solicitações dos outros países”.
O pneumologista realçou em declarações à agência Lusa que uma das lições reforçadas com a pandemia foi “a importância do planeamento, da organização e da antecipação”, dando o exemplo da Alemanha que fez há “vários meses” praticamente toda a encomenda das vacinas que necessita.
“Nós não podemos dizer que vamos antecipar e preparar e depois deixar tudo para uma altura em que estamos limitados e ficar com os restos”, alertou.
Para Filipe Froes, a gripe deve ser observada este ano de “uma maneira diferente” porque não houve atividade gripal nem em Portugal nem nos restantes países do Hemisfério Norte à semelhança do que já tinha acontecido no Hemisfério Sul.
Esta situação, segundo o especialista, tem um lado positivo e outro menos positivo.
“Do lado positivo, significa que as medidas de intervenção não farmacológicas foram eficazes para a diminuição da circulação dos vírus respiratórios, nomeadamente do vírus da gripe e do vírus sincicial respiratório, e para diminuir significativamente o seu impacto na comunidade”, adiantou.
Do lado menos positivo, “ao não haver gripe nós todos não tivemos capacidade de desenvolver reforço da imunidade, não tivemos capacidade de efetuar uma vigilância epidemiológica adequada e estamos perante uma situação de maior risco, não só de atividade gripal mais forte, bem como maior risco de discordância antigénica, ou seja, as vacinas não terem a concordância desejada em relação às estirpes do vírus influenza que estão na vacina e às estirpes em circulação”, explicou.
Por outro lado, considerou, o facto de a maior parte da população, nomeadamente a de risco, não ter tido contacto com o vírus influenza também fez com que “a sua imunidade não tenha sido estimulada, não tenha sido reforçada e, portanto, tenha diminuído, o que a fragiliza”.
Mas esta situação não constitui “uma surpresa”: “Já sabemos que em anos em que há menos gripe habitualmente no ano seguinte há mais gripe”.
Filipe Froes realçou que este é “o cenário” para o qual o país tem que se preparar, antecipando a reserva de vacinas, e pedindo às pessoas com sintomas de gripe que usem máscara, à semelhança do que se verifica noutras culturas, nomeadamente no Extremo Oriente, e evitem aglomerados para se protegerem, mas sobretudo para diminuir o risco de transmissão a outros.
“Ao termos que nos preparar, temos que provavelmente este ano antecipar a reserva de vacinas, porque os outros países também estão a fazer o mesmo e vão comprar mais, e, portanto, temos que nos precaver perante o mercado à escala global de maior procura e menos oferta”, reiterou.
Segundo uma resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República em 31 de maio, os encargos com a aquisição da vacina não podem exceder os 6.229.246,35 euros, aos quais acresce o IVA, na ARS do Norte, os 2.790.450,00 euros na ARS do Centro, os 5.036.325,00 euros na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, os 286.200,00 euros na ARS do Alentejo e os 509.356,50 euros na ARS do Algarve.
A agência Lusa questionou a Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre quantas vacinas Portugal vai adquirir este ano e se o país já fez alguma reserva, mas ainda não obteve resposta.
LUSA/HN
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