Os mais novos também têm ataques cardíacos?

9 de Julho 2021

Dr. Manuel Ferreira Cardiologista pediátrico no Hospital da Cruz Vermelha

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Os mais novos também têm ataques cardíacos?

09/07/2021 | Hospital cruz vermelha

O enfarte agudo do miocárdio (EAM), vulgarmente conhecido como ataque cardíaco, ocorre quando uma das artérias do coração fica obstruída por um coágulo, o que faz com que uma parte do músculo cardíaco deixe de funcionar por falta de oxigénio e nutrientes. O EAM é a principal causa do óbito em Portugal e nos outros países Europeus. Atinge cerca de 20 por 100.000 habitantes. Destes, cerca de 20% são jovens. 

As doenças cardiovasculares são mais frequentes na idade adulta. O enfarte do miocárdio não é exceção, podendo ser acelerado quando existem fatores de risco potenciadores desta doença.

Contudo existe evidência de que a deterioração das artérias pode iniciar-se precocemente, ainda na infância. Sabemos que existem formas de condicionar e atenuar esta evolução. Quando o enfarte do miocárdio ocorre no adulto a situação é entendida com uma certa normalidade. Quando o enfarte atinge um adolescente gera surpresa e perplexidade, por ser uma situação pouco comum.

O enfarte agudo do miocárdio no adolescente é raro. Todos ficamos consternados quando é veiculada a noticia da morte súbita de um jovem como consequência desta doença. É pouco comum, mas pode acontecer em resultado da deterioração precoce das artérias coronárias.

Convêm salientar que no adulto pelo facto da instalação da doença coronária ser progressiva e mais longa, o organismo desenvolve mecanismos de compensação que podem minimizar os efeitos imediatos do ataque cardíaco. Pelo contrário, no jovem, não há tempo para se desenvolverem esses mecanismos, podendo assumir o EAM um efeito imediato muito mais catastrófico.

As razões são diversas, mas estão na generalidade intimamente ligadas ao estilo de vida, o qual pode ser modelado por nós de forma a minimizar esta ocorrência.

Excluindo as anomalias congénitas das artérias coronárias, ou aquelas doenças congénitas do coração que podem condicionar alterações graves destas artérias e ainda uma doença especifica que pode resultar em enfarte do miocárdio e que é a Doença de Kawasaki, a grande maioria da doença coronária é adquirida e resulta de um conjunto de fatores de risco que isoladamente ou em associação com o estilo de vida podem afetar diretamente a estrutura e a função destas artérias.

Está comprovado cientificamente que a doença das artérias coronárias pode começar cedo ainda na vida fetal, consequência do comportamento materno em termos alimentares, consumo de tabaco e outras drogas. Este fenómeno leva á modificação das propriedades destas pequenas artérias através do processo de aterosclerose, em que vão perdendo as suas características morfológicas e funcionais, podendo culminar na sua obstrução completa, daí resultando o EAM.

Todos estes fatores se intrincam com o estilo de vida podendo ser potenciados ou atenuados consoante as boas ou más práticas do nosso comportamento social. Uma vez identificados sabemos a forma de os contrariar. A informação e o conhecimento geral deste problema ajudam ao seu combate com maior eficácia.

Começando cedo, irão determinar os eventos da doença cardiovascular ao longo da vida. Para a grande maioria das crianças as alterações destas artérias são menores e podem ser minimizadas ou mesmo prevenidas com a adesão a um estilo de vida saudável desde o nascimento. Contudo em algumas crianças e adolescentes o processo é acelerado por causa da presença dos fatores de risco já enumerados. É crescente o número de crianças com obesidade, hipertensão arterial e diabetes que aparecem nas nossa consultas. A exposição ao tabaco tanto passiva como ativa e o consumo de drogas continuam a constituir um problema.

Estas são evidências para a promoção de um comportamento social saudável na criança o mais precoce possível, de forma a reduzir ao mínimo os fatores de risco que contribuem para a proliferação desta doença. 

 

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