“Algumas lojas de empresas não portuguesas estavam a recusar o acesso às instalações aos residentes” do bairro português em Malaca, onde foram registados mais de 30 casos da doença na comunidade local, disse à Lusa, na terça-feira, Joseph Santa Maria.
A polémica surgiu na semana passada, quando vários luso-malaios do bairro português recorreram às redes sociais para denunciarem que tinham sido impedidos de entrar em estabelecimentos comerciais fora da zona.
Vários donos de lojas “pensam que toda a comunidade que lá vive pode estar infetada” e por isso barraram os residentes do bairro, onde se calcula existirem cerca de mil a dois mil lusodescendentes em mais de 110 casas, indicou Joseph Santa Maria.
O chefe do Governo do estado de Malaca já veio colocar água na fervura e apelar aos comerciantes para que não discriminem os lusodescendentes.
“Nem todos os habitantes do bairro deram positivo para a covid-19”, disse Sulaiman Md Ali, citado pelo jornal local The Star, na terça-feira.
“Por favor, deixem de ser injustos para aqueles que são saudáveis e sigam os procedimentos operacionais padrão, pedindo-lhes que mostrem o MySejahtera [certificado digital] para entrar nas instalações”, afirmou o responsável, acrescentando que a comunidade malaia tem de mostrar “mais compaixão durante esta pandemia, sem pôr ninguém de lado”.
À Lusa, o representante da minoria luso-malaia acrescentou ter ficado contente com as declarações do chefe do Governo do estado de Malaca.
“Estou muito satisfeito com o nosso líder estatal. Ele também se preocupa connosco, embora sejamos uma minoria”, sublinhou Joseph Santa Maria.
A relação com Portugal remonta a 1509 quando Diogo Lopes Sequeira, enviado do rei D. Manuel, aportou em Malaca para estabelecer relações com o soberano local. Dois anos mais tarde, Afonso de Albuquerque desembarcou em Malaca, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que se tornaria um importante entreposto comercial.
Na mesma altura, surge o crioulo de matriz portuguesa kristang, uma língua agora ameaçada de extinção, cuja maior parte do vocabulário deriva do português, mas de estrutura gramatical semelhante ao malaio, extraindo ainda influências dos dialetos chinês e indiano.
Depois de 100 anos de domínio português, a cidade foi tomada pelos holandeses, depois pelos ingleses, até à independência da Malásia, em 1957.
De acordo com a contagem independente da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos), a Malásia registou, desde o início da pandemia, 7.241 mortes e 939.899 casos da doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 4.100.352 mortos em todo o mundo, entre mais de 190,8 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente da agência France-Presse.
Em Portugal, desde o início da pandemia, em março de 2020, morreram 17.219 pessoas e foram registados 935.246 casos de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil e Peru.
LUSA/HN
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