Estudo revela que pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia

6 de Outubro 2021

Um estudo pioneiro, esta quarta-feira divulgado e conduzido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), concluiu que as pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia de Covid-19.

Primeiro a nível internacional a avaliar o papel do perfeccionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de Dovid-19, este estudo foi realizado por investigadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, dirigido pelo catedrático António Macedo, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), indica, numa nota enviada hoje à agência Lusa, a Universidade de Coimbra (UC).

Segundo os resultados da investigação, publicada na revista científica Personality and Individual Differences, as pessoas mais perfeccionistas “tiveram mais medo da Covid-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências, e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stress”, refere Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo.

O perfeccionismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, “acompanhada de (auto)avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfeccionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress”, esclarece, citada pela UC, a investigadora.

A amostra do estudo foi constituída por 413 adultos, homens e mulheres, da população portuguesa, recrutados entre setembro e dezembro de 2020.

“Embora as mulheres tenham demonstrado níveis mais elevados de perfeccionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfeccionismo que avaliámos, e que são atualmente as consideradas mais relevantes (perfeccionismo rígido, autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do género”, realça Ana Telma Pereira.

A investigadora explica que as reações psicológicas a pandemias dependem muito da personalidade da pessoa, uma vez que “são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como se interpretam as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram”.

“Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reações psicológicas à pandemia de Covid-19”, sublinha.

“Mais concretamente, verificámos que as diversas componentes do perfeccionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros), geraram mais ansiedade, depressão e ‘stress’ face à pandemia”, especifica Ana Telma Pereira.

Tendo em conta que o perfeccionismo tem vindo a aumentar significativamente “nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma ‘epidemia de perfeccionismo’”, Ana Telma Pereira nota que os resultados deste estudo evidenciam que “o perfeccionismo deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico da(s) pandemia(s)”.

É difícil, concluiu, “alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles”.

Além de Ana Telma Pereira e António Macedo, a equipa de investigadores integra Carolina Cabaços, Ana Araújo, Ana Paula Amaral e Frederica Carvalho.

LUSA/HN

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