“Só num grupo restrito de pessoas com muito risco cardiovascular pode ser benéfico fazer aspirina antes de qualquer evento cardiovascular”, adiantou à Lusa Rui Guerreiro, o coordenador do grupo de estudo de tromboses e plaquetas da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC).
Segundo o médico, nas pessoas que nunca tiveram um enfarte ou um AVC, os últimos estudos mostram que, embora o medicamento “previna a ocorrência destes eventos, tem um custo significativo” de aumento da possibilidade de hemorragias, principalmente ao nível gastrointestinal.
“Na prevenção primária, o que sabemos hoje em dia é que [a aspirina] deve ser feita apenas num grupo muito restrito de pessoas com muito alto risco cardiovascular”, adiantou Rui Guerreiro, exemplificando com os casos de pessoas com diabetes com mais de 20 anos de evolução ou com doenças genéticas.
Relativamente a quem já teve um enfarte ou um AVC, o membro da SPC avançou que estas pessoas “continuam a ter indicação para fazer aspirina”, por prescrição e com acompanhamento médico.
A aspirina torna o sangue mais fino, o que evita a formação de coágulos sanguíneos e ajuda a reduzir o risco de ataque cardíaco ou AVC.
De acordo com Rui Guerreiro, desde há muito tempo que se constatou que a aspirina previne enfartes e AVC, mas a informação mais atualizada indica que isso “tem um custo” ao nível dos efeitos secundários.
“Esta prática clínica em prevenção primária já não é atual. Desde há alguns anos que temos esta informação e as recomendações traduzem exatamente isso. É uma prática que tem vindo a ser abandonada com base nos últimos estudos”, adiantou o cardiologista.
Especialistas norte-americanos adiantaram na terça-feira que a ingestão diária de aspirina para reduzir este risco não deverá ser recomendada para pessoas com 60 ou mais anos, nos Estados Unidos da América.
“Usar aspirina diariamente pode ajudar a prevenir ataques cardíacos e de acidente vascular cerebral em alguns [casos], mas também pode causar efeitos adversos graves, como hemorragia interna”, disse John Wong, membro da ‘task force’ dos Serviços Preventivos dos EUA, citado em comunicado.
Por seu lado, as pessoas de 40 e 59 anos em risco, mas sem histórico de doenças cardiovasculares, devem tomar a decisão de começar o tratamento de forma individual, junto dos médicos, acrescentaram os especialistas dos EUA.
“É importante que as pessoas entre os 40 e os 59 anos que não têm histórico de doenças cardíacas conversem com o seu médico para decidirem em conjunto se é correto ingerirem aspirina”, adiantou John Wong.
O comunicado da ‘task force’ dos EUA acrescenta que as novas recomendações não se aplicam a pessoas que tomam aspirina depois de já terem sofrido um AVC ou um ataque cardíaco.
É estimado que cerca de 600 mil norte-americanos sofrem um primeiro ataque cardíaco e que cerca de 610 mil sofrem o primeiro AVC todos anos.
O uso da aspirina para reduzir o risco de doenças cardiovasculares costuma ser iniciado de forma espontânea pelos norte-americanos. De acordo com um estudo de 2017, eram 23,4% que usavam aspirina.
De acordo com Rui Guerreiro, esta conclusão dos especialistas norte-americanos “não é diferente da posição” da Sociedade Europeia de Cardiologia, que consta das recomendações sobre prevenção cardiovascular emitidas recentemente.
LUSA/HN
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