Afluência de doentes não-covid às urgências em Lisboa aumenta pressão nos hospitais

17 de Novembro 2021

A afluência de doentes não-covid às urgências dos grandes hospitais de Lisboa está a aumentar, muitos em situação grave a precisar de internamento, aumentando a pressão sobre as unidades de saúde, afirmaram esta quarta-feira à Lusa responsáveis hospitalares.

No Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), que integra os hospitais São José, Curry Cabral, D. Estefânia, Santa Marta, Capuchos e Maternidade Alfredo da Costa, o número de doentes internados por via da urgência aumentou “quase o dobro em relação àquilo que é a norma”.

“Por cada urgência, o número de pessoas que fica internada aumentou bastante”, disse Paulo Espiga, vogal executivo do Conselho de Administração do CHULC, adiantando que são “doentes complicados” que implicam “muitos cuidados” e internamento.

Segundo Paulo Espiga, a pressão nas urgências está a acentuar-se de duas formas. Por um lado, os suspeitos de Covid-19 que são “um pouco mais daquilo que era normal nas últimas semanas”, e por outro lado, “e mais importante”, os doentes não covid, cuja pressão tem vindo a ser sentida desde princípios de setembro, mas que se tem vindo a agudizar.

Quanto aos internamentos, Paulo Espiga disse que há “uma ocupação elevada”. Nas áreas da Medicina “a pressão é muitíssimo elevada” e obriga a reformular a afetação das camas de outras áreas para a área Medicina.

“Se a Covid-19 continuar a subir então esta pressão ainda será maior porque são camas que teremos que retirar a outras áreas para afetar aos doentes, mas neste momento a pressão que temos é de doentes não covid”, salientou.

O Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que engloba os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, também tem vindo a registar uma maior afluência de doentes graves.

Apesar de continuar a haver doentes com pulseiras verdes e azuis nas urgências (casos não urgentes), está a assistir-se a “uma alteração desse perfil relativamente ao passado”, disse à Lusa o diretor clínico do CHULN, Luís Pinheiro.

“Já temos um predomínio que, às vezes, chega a ultrapassar os 70% de doentes amarelos e laranjas que representam doentes de maior complexidade (…) ao contrário do histórico anterior onde eram mais ou menos 50%, ou às vezes menos, do total da afluência à urgência”, referiu, sublinhando que são doentes que “requerem um tipo de cuidados e de assistência mais prolongada e mais complexa”.

Relativamente aos internamentos não-covid, afirmou que está a viver-se uma realidade semelhante à fase pré-pandemia, com “um preenchimento significativo” das áreas de internamento, na atividade programada e não programada, “mercê daquilo que tem vindo a ser o afluxo às urgências semelhantes qualitativamente também à fase pré-pandémica”.

O centro hospitalar ainda tem margem para responder à procura, porque tem “uma dinâmica de admissões e de altas bastante efetiva”, mas o diretor clínico manifestou “alguma preocupação” com o Inverno: “São períodos sempre de maior pressão sobre os sistemas”, sendo este ano terá que conjugar-se a resposta covid com a não covid, cujas solicitações há um ano “eram claramente menores”.

Quanto à covid-19, adiantou que estão internados 17 doentes com ccvid-19 em enfermaria e seis em cuidados intensivos, mas que ainda há margem para internar mais doentes com o dispositivo atualmente instalado.

“São doentes maioritariamente mais idosos” e a “larguíssima maioria” vacinada com as duas doses. Contudo, têm “quadros clínicos de menor gravidade”, um dos impactos da vacina contra accovid-19 e que agora a terceira dose “vai ajudar a que se reduzam ou pelo menos que não aumentem”.

Dados da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo avançados hoje à Lusa indicam que estão internados nos hospitais da desta região 159 doentes com covid-19, sendo 138 em enfermaria e 21 em Unidade Cuidados Intensivos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APEF e Ordem dos Farmacêuticos apresentam Livro Branco da formação

A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF) promove a 22 de novembro, em Lisboa, o Fórum do Ensino Farmacêutico. O ponto alto do evento será o lançamento oficial do Livro Branco do Ensino Farmacêutico, um documento estratégico que resulta de um amplo trabalho colaborativo e que traça um novo rumo para a formação na área. O debate reunirá figuras de topo do setor.

Convenções de Medicina Geral e Familiar: APMF prevê fracasso à imagem das USF Tipo C

A Associação Portuguesa de Médicos de Família Independentes considera que as convenções para Medicina Geral e Familiar, cujas condições foram divulgadas pela ACSS, estão condenadas ao insucesso. Num comunicado, a APMF aponta remunerações insuficientes, obrigações excessivas e a replicação do mesmo modelo financeiro que levou ao falhanço das USF Tipo C. A associação alerta que a medida, parte da promessa eleitoral de garantir médico de família a todos os cidadãos até final de 2025, se revelará irrealizável, deixando um milhão e meio de utentes sem a resposta necessária.

II Conferência RALS: Inês Morais Vilaça defende que “os projetos não são nossos” e apela a esforços conjuntos

No segundo dia da II Conferência de Literacia em Saúde, organizada pela Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS) em Viana do Castelo, Inês Morais Vilaça, da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, sublinhou a necessidade de unir sinergias e evitar repetições, defendendo que a sustentabilidade dos projetos passa pela sua capacidade de replicação.

Bragança acolhe fórum regional dos Estados Gerais da Bioética organizado pela Ordem dos Farmacêuticos

A Ordem dos Farmacêuticos organiza esta terça-feira, 11 de novembro, em Bragança, um fórum regional no âmbito dos Estados Gerais da Bioética. A sessão, que decorrerá na ESTIG, contará com a presença do Bastonário Helder Mota Filipe e integra um esforço nacional do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida para reforçar o diálogo com a sociedade e os profissionais, recolhendo contributos para uma eventual revisão do seu regime jurídico e refletindo sobre o seu papel no contexto tecnológico e social contemporâneo.

Lucília Nunes na II Conferência da RALS: “A linguagem técnica é uma conspiração contra os leigos”

No II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, em Viana do Castelo, Lucília Nunes, do Instituto Politécnico de Setúbal ,questionou as certezas sobre autonomia do doente. “Quem é que disse que as pessoas precisavam de ser mais autónomas?”, provocou, ligando a literacia a uma questão de dignidade humana que ultrapassa a mera adesão a tratamentos

II Conferência RALS: Daniel Gonçalves defende que “o palco pode ser um bom ponto de partida” para a saúde psicológica

No âmbito do II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, realizado em Viana do Castelo, foi apresentado o projeto “Dramaticamente: Saúde Psicológica em Cena”. Desenvolvido com uma turma do 6.º ano num território socialmente vulnerável, a iniciativa recorreu ao teatro para promover competências emocionais e de comunicação. Daniel Gonçalves, responsável pela intervenção, partilhou os contornos de um trabalho que, apesar da sua curta duração, revelou potencial para criar espaços seguros de expressão entre os alunos.

RALS 2025: Rita Rodrigues, “Literacia em saúde não se limita a transmitir informação”

Na II Conferência da Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS), em Viana do Castelo, Rita Rodrigues partilhou como o projeto IMPEC+ está a transformar espaços académicos. “A literacia em saúde não se limita a transmitir informação”, afirmou a coordenadora do projeto, defendendo uma abordagem que parte das reais necessidades dos estudantes. Da humanização de corredores à criação de casas de banho sem género, o trabalho apresentado no painel “Ambientes Promotores de Literacia em Saúde” mostrou como pequenas mudanças criam ambientes mais inclusivos e capacitantes.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights